"Seis", respondeu o vizinho.
Mas, quando o rapaz acabou de forrar o seu quarto, sobraram-lhe dois rolos. Então, queixou-se ao vizinho, que disse:
"É... Também me sobraram dois".
silêncio eloquenteO recurso a esta figura retórica é muito frequente na poesia mística e na poesia amorosa. Como neste soneto de Luís de Camões, todo construído com oxímoros:
lúcida loucura
inocente culpa
cruel gentileza
declaração tácita
ilustre desconhecido
guerra pacífica
morto-vivo
inimigo amistoso
sionismo cristão*
Amor é fogo que arde sem se ver
É ferida que dói e não se sente
É um contentamento descontente
É dor que desatina sem doer
É um não querer mais que bem querer
É solitário andar por entre a gente
É nunca contentar-se de contente
É cuidar que se ganha em se perder
É querer estar preso por vontade
É servir a quem vence, o vencedor
É ter com quem nos mata lealdade.
Mas como causar pode seu favor
Nos corações humanos amizade,
Se tão contrário a si é o mesmo Amor?
_______________
*O que é o sionismo cristão e por que ele alimenta a direita no Brasil?, por Magali Cunha
A famosa Independência do Brasil foi um dos nossos mais celebrados eventos nacionais em que "tudo mudou para que nada mudasse".
Pelas circunstâncias em que ocorreu, a única coisa notável foi a conquista de uma posição política sem que houvesse derramamento de sangue, pois é bem provável que haveria conflitos armados e a monarquia seria derrubada de qualquer maneira. Como o foi posteriormente. Também sem conflitos mais sérios.
O Brasil queria, entre outras coisas, se livrar dos altos tributos que representavam a transferência dos produtos extraídos desta colônia para Portugal. O que sufocava a economia da colônia.
A tão celebrada Independência foi obtida graças à transferência de uma dívida de cerca de 3 milhões de libras que Portugal tinha com a Inglaterra. A dívida foi transferida para o Brasil, Portugal aceitou a Independência e o Brasil passou a transferir ouro, madeira, pedras preciosas, etc. para a Inglaterra. Ou seja, os produtos que deveriam ir para Portugal passaram a ser enviados para a Inglaterra. O que continuou sufocando a economia brasileira e impedindo melhorias no País.
A monarquia continuou sendo portuguesa, o Brasil continuou com a economia sufocada, o povo continuou assistindo sem participar de nada, mas "tudo mudou para que nada mudasse".
Até a Proclamação da República onde, "tudo continuou como dantes no quartel de Abrantes".
Uma pergunta desconcertante do escritor científico soviético Yakov Perelman:
Se um relógio leva três segundos para bater três, quanto tempo leva para bater sete?
Pouse a seta do mouse aqui para ler a resposta.Kishio_Suga/Assemblages/Sequential_Spaces/2014
Nascido em Morioka, província de Iwate, em 1944, Kishio Suga frequentou a moderna Tama Art University de Tóquio de 1964 a 1968. Logo após sua formatura, ele começou a fazer arranjos efêmeros de materiais naturais e artificiais em locais ao ar livre em torno de Tóquio, uma prática que ele mais tarde denominou “trabalho de campo”. Ao mesmo tempo, ele traduziu essa atividade para ambientes internos com a qual rapidamente ganhou reconhecimento internacional.
Lumbar Scoliosis?
Bons nas satirizações, melhores nas retratações: deveria ser este o lema dos Simpsons.
Comigo me desavim,Como viveu entre fins do século XV e meados do XVI, o poeta Sá de Miranda foi contemporâneo de Camões, ao menos durante a juventude do autor d’ "Os Lusíadas". E naturalmente, a imensa fama de Camões ofuscou bastante a de Sá de Miranda, embora o primor da trova que apresentamos acima seja reconhecido unanimemente. Não se trata apenas da métrica, isto é, da sua fluente e musical cadência. Existe também a visão interior, pois o poeta se percebe duplo, antagônico, contraditório.
Sou posto em todo perigo.
Não posso viver comigo
Nem posso fugir de mim.
O n.º 1 criou uma imagem realista.
O n.º 2 foi razoavelmente realista.
O n.º 3 foi fracamente realista.
O n.º 4 esteve a uma mordida de inventar a Apple Computer Inc.
Devido à gulodice, o n.º 5 não inventou nada.
Por Jessier Quirino (*)
(*) Jessier Quirino é 📚 poeta, 🎤 homem do palco e 👀 Prestador-de-atenção das coisas do mato.
Os ventos, para o homem do povo, são perigosíssimos. O chamado "vento encanado" produz sabidas paralisias. A propósito, Mestre Nilo Pereira contou-nos que ao visitar um amigo, no Recife, encontrou-o de pescoço duro, não podendo mover a cabeça. Ao indagar o que acontecera, ouviu do seu amigo esta explicação: "Fiquei de pescoço duro porque apanhei um desses ventos". Ao que Nilo, sempre bem humorado, adiantou: "Se você algum dia desejar se mudar desta casa, avise-me que eu tenho necessidade de endurecer também alguma coisa..." (Veríssimo de Melo, in "Medicina popular num mundo em transformação")
Ser um "dog hater" (alguém que não gosta de cachorros) pode ser uma escolha pessoal, mas é importante abordar essa perspectiva com sensibilidade. As pessoas podem ter razões variadas para não gostar de cachorros, e algumas delas incluem:
Traumas passados: Experiências negativas, como ataques de cachorros, mordidas ou outros incidentes desagradáveis, podem levar alguém a desenvolver medo ou aversão a cachorros.
Alergias: Algumas pessoas são alérgicas a pelos de animais, incluindo pelos de cachorros, o que pode causar desconforto físico.
Infecções: Outras temem o risco de que transmitam zoonoses, tais como raiva, leptospirose, toxocaríase, leishmanioses, giardíase, salmonelose, micoses cutâneas, larva migrans etc.
Fobia: Algumas pessoas têm uma fobia específica de cachorros, conhecida como cinofobia. Isso pode ser causado por experiências passadas, medo de mordidas ou simplesmente pelo desconhecido.
Estilo de vida: Algumas pessoas podem achar difícil integrar a responsabilidade de cuidar de um animal de estimação em seu estilo de vida. Isso pode incluir restrições de tempo, espaço ou outros compromissos que tornam difícil cuidar adequadamente de um cachorro.
É importante lembrar que, embora as pessoas tenham suas razões, é fundamental tratar os animais com respeito. Os cachorros são seres sencientes e merecem ser tratados com dignidade.
Lauren Weinstein, Mastodon
Um dos aspectos das séries de televisão comerciais dos anos 60 e 70 (e, em certa medida, também um pouco mais tarde) era o fato de os produtores não sentirem a necessidade de pontuar CADA SEGUNDO DE CADA FILME.
Ao vermos clássicos como "Columbo" e o original "Havaí 5.0", reparamos como o áudio é tão claro e as conversas são fáceis de ouvir e compreender, sem música contínua por baixo (ou por vezes por cima) de praticamente tudo o que alguém está a dizer.
É frequente observar o tempo que estes programas conseguiam aguentar com um plano contínuo sem cortes, enquanto os programas "modernos" sentem a necessidade de irritantes cortes múltiplos por segundo na maior parte do tempo.
Mas a questão do áudio é mais básica. Quando há uma partitura contínua (quer estejam ou não envolvidos sintetizadores de baixa qualidade), manter a noção do que está a ser dito pode ser uma confusão.
E isto não é apenas um problema para os espectadores mais velhos. Os inquéritos revelam que uma percentagem surpreendentemente elevada de todos os grupos etários deixa agora as legendas ativas por rotina, porque a dificuldade em ouvir e compreender os diálogos tornou-se tão intensa nas séries de televisão e filmes modernos (sendo que, na maioria dos casos, estes últimos nem sequer oferecem legendas práticas nas salas de cinema).
"Consegue ouvir-me agora?"
Mana (domínio público)
c/ Gilberto Gil, disco "O Sol de Oslo", 3:51 "Teus cabelos"
Mana, seus cabelos, mana / São os arvoredos / Toca fogo neles, mana / De manhã bem cedo.
http://youtu.be/UzHW8dBsc8Q?si=NZLRbAp1PY-H66pW
Mana que emana (Bruno Barreto e Tiago da Serrinha)
c/ Samba da Gávea
A mana caiu no "semba" / a mana quer "sembar".
http://youtu.be/TK6MzEoaObs?si=T4UsLbMstwgZK7ft
Cantiga do Caicó (domínio público)
Inspirou Villa-Lobos para a composição de uma de suas bachianas.
c/ Ricardo Bacelar
Ô, mana, deixa eu ir / Ô, mana, eu vou só / Ô, mana, deixa eu ir / Pro sertão do Caicó.
http://youtu.be/4VTO9j13brg?si=mWsOabe1UzymIJML
Vamos, Maninha
Cirandinha n.º3 de Villa-Lobos
Vamos, Maninha / Vamos à praia passear / Vamos ver a barca nova / Que do céu caiu no mar.
http://youtu.be/P8Z9psfpaNk?si=NyGQLREAmvu9m2RF
Maninha (Chico Buarque)
c/Chico Buarque e Maninha
Se lembra quando toda modinha / falava de amor? / Pois nunca mais cantei, oh maninha / depois que ele chegou.
Vídeo
Sobre Villa Borghese
Em setembro de 2023, tive a oportunidade de conhecer a Villa Borghese (que Chico relembra em seu depoimento nesse vídeo), onde fica um dos parques mais importantes de Roma. Nos jardins desse parque, os visitantes veem construções, esculturas, monumentos e fontes de famosos artistas de diferentes épocas. Um de seus pontos interessantes é o Relógio de Água de Pincio, um exemplo de engenharia do século XIX e que ainda funciona. Localizado no Norte de Roma, o parque tem entrada gratuita.
«Impossibility in its purest form»
— Massimo (@Rainmaker1973) December 25, 2023
The most famous triangular impossible object, devised in the 1950s by Lionel Penrose and his son, Nobel Prize-winning mathematician Sir Roger Penrose. pic.twitter.com/CSyJi53sgw
"Dar-te-ei"
(Marcelo Camelo)
Dar-te-ei, finalmente os beijos meus.
Deixarei que esses lábios sejam meus, sejam teus.
"Os Passistas"
(Caetano Veloso)
Amor,
Onde quer que estejamos juntos
Multiplicar-se-ão assuntos de mãos e pés
E desvãos do ser. (vídeo)
"O homem deu nome a todos animais"
Esta canção na música popular traz outro exemplo de mesóclise. A letra é a versão de uma composição de Bob Dylan ("Te man gave names to all animals") pelo poeta da Paraíba (Zé Ramalho). Neste caso, por que podemos distinguir a mesóclise, que está gramaticalmente correta e não soa sinteticamente, talvez graças à dramaticidade da voz do cantor. Segue um trecho da melodia.
O homem deu nome a todos animais
desde o início, há muito tempo atrás.
Viu um bicho com tal poder
garras afiadas e um porte
quando rugia, tremia o soalho.
Disse com razão: invocar-se-á leão.
"Rap da mesóclise"
A mesóclise seria / a real democracia / Põe no meio da ação / pronomes de mão vazia / E falando no futuro / Ela incluir-lhes-ia.
No meio de campo, Nilton Santos, Zito e Didi trocariam passes curtos para atrair a atenção dos adversários... Vavá puxaria a marcação deles, caindo para o lado esquerdo do campo... Depois de uma nova troca de passes, a bola seria lançada nas costas do marcador de Garrincha, que venceria o marcador na corrida...Com a bola dominada, Garrincha invadiria a área de defesa dos adversários, sempre pela direita, e ao chegar à linha de fundo cruzaria a bola para a marca do pênalti... E Vavá, que viria de frente em grande velocidade e, já sabendo aonde a bola seria lançada, faria o gol.
Jogos Olímpicos franceses vêm a público esclarecer que a performance das drag queens não fazia referência ao quadro "A Última Ceia", de Leonardo da Vinci, como muitos acreditaram, mas sim à obra 👉"Festa dos Deuses" (Le Festin des Dieux), de Jan Harmensz van Bijlert,👈 pintada por volta de 1635 e mantida no Museu Magnin, em Dijon.
No Olimpo, os deuses estão reunidos para um banquete que celebra o casamento de Tétis e Peleu. À esquerda estão Minerva, Diana, Marte e Vênus acompanhados de Cupido. Flora, a deusa da primavera, está por trás deles. Apolo coroado, identificável por sua lira, preside o centro da mesa. Reconhecemos ainda Hércules com sua clava e Netuno com seu tridente. Na extrema direita, Eris colocou o pomo da discórdia sobre a mesa. Faltam alguns deuses, provavelmente devido ao corte sofrido pela tela na parte esquerda; a presença do pavão de Juno sugere isso. (Magnin Musée)
"Livre pensar é só pensar." (Millôr Fernandes)
Estudar, trabalhar... Será isso um looping infinito da vida?
Não estuda nem trabalha / Muito cedo se atrapalha.
A caneta é muito mais leve que a marreta.
Estude como se estivesse trabalhando; trabalhe como se estivesse estudando.
O estudo e o trabalho são como notas enarmônicas. Denominações diferentes, porém mesmas frequências sonoras.
Em resumo, enquanto o estudo e o trabalho compartilham algumas características, como comprometimento e desenvolvimento pessoal, as diferenças fundamentais residem em seus objetivos principais, remuneração, estrutura de tempo, ambiente e responsabilidades. Ambos desempenham papéis importantes na vida das pessoas. (IA)
Além, muito além daquela serra, que ainda azula no horizonte, nasceu Iracema. Iracema, a virgem dos lábios de mel, que tinha os cabelos mais negros que a asa da graúna, e mais longos que seu talhe de palmeira.
O favo da jati não era doce como seu sorriso; nem a baunilha recendia no bosque como seu hálito perfumado. Mais rápida que a corça selvagem, a morena virgem corria o sertão e as matas do Ipu, onde campeava sua guerreira tribo, da grande nação tabajara.
Iracema
Adoniran Barbosa (no vídeo - c/ Elis)
Iracema, eu nunca mais eu te vi / Iracema, meu grande amor foi embora / Chorei, eu chorei de dor porquê / Iracema, meu grande amor foi você.
Aquarela brasileira
Caminhando ainda um pouco mais / Deparei com lindos coqueirais / Estava no Ceará, terra de Irapuã / De Iracema e Tupã.
Tropicália
Caetano Veloso
Viva Iracema-ma-ma / Viva Ipanema-ma-ma-ma-ma / Viva Iracema-ma-ma / Viva Ipanema-ma-ma-ma-ma.
Iracema voou
Chico Buarque
Iracema voou / Para a América / Leva roupa de lã / E anda lépida / Vê um filme de quando em vez / Não domina o idioma inglês.
Há nessa canção algo sobre a identidade pois a heroína está construindo uma nova personalidade. Ela deseja se diluir completamente no novo país que escolheu, abandonar sua cultura e adotar a do novo país, esquecer tudo o que foi e começar vida nova. Iracema quer até mesmo se tornar esse próprio país, país altaneiro que para se nomear, tomou posse do nome do continente. E essa relação especular tão alienadora é colocada através dos dois nomes próprios da canção: «Iracema» é o anagrama de «América». Bem, Chico não é chegado apenas a palíndromos.
Iracema, a virgem dos lábios de mel
samba-enredo do G.R.E.S. Beija-Flor de Nilópolis (1917)
A jandaia cantou no alto da palmeira / O nome de Iracema / Lábios de mel / Riso mais doce que o jati.
Iraci (bônus)
Carlos Gonzaga
Ô, Iraci, ai como eu amo a ti / Sem ti não sei viver / Mas que coisa louca é amar alguém.