03 julho, 2024

Samba em prelúdio

No início dos anos 1960, o violonista Baden Powell havia composto este samba. Exibindo-o a Vinicius de Moraes, o amigo poeta teria se animado em escrever uma letra para o tema instrumental. Mas, após muitas doses de uísque, Baden percebeu que a tal letra não saía. Perguntando a Vinícius sobre o motivo de seu entusiasmo inicial ter minguado, eis que este confessou, constrangido: não poderia escrever sobre um tema plagiado de Chopin.
Baden repeliu a acusação: "Eu conheço os prelúdios, os noturnos de Chopin… isso não tem nada a ver com Chopin!" E a discussão prosseguiu, com as acusações mútuas, até Vinícius ter uma ideia que poderia resolver, de uma vez por todas, a contenda: acordar a então esposa Lucinha (Maria Lúcia Proença), pianista e conhecedora do repertório do compositor polaco, para dar seu veredito. Eram seis da manhã, a moça teve seu descanso interrompido, escutou pacientemente a melodia apresentada por Baden e deu seu parecer:
– Isso não é Chopin, não!
E o poeta, assim, se entregou à máquina de escrever e, de uma só vez, escreveu a letra por inteiro.
Acontece que Vinícius de Moraes, com seu bom ouvido musical, não poderia estar completamente errado. E o tema em questão, que teria inspirado Baden, não era de Chopin, e sim de Heitor Villa-Lobos! Trata-se do Prelúdio da Quarta Bachiana Brasileira (1941).
Ignorando-se a inspiração erudita do tema instrumental de Baden, e o próprio título da canção, "Samba em prelúdio" traz um outro elemento que alude à música clássica: sua constituição enquanto composição polifônica, para canto e contracanto.
Fonte: 365 Canções Brasileiras
Com efeito, em suas diversas gravações, a obra traz duas vozes que dialogam e que se unem no final.
Vinicius de Moraes e Odete Lara
Toquinho e Maria Creuza
Vinicius e Ornella Vanoni (em italiano)
Toquinho e Maria Bethânia
Geraldo Vandré e Ana Lúcia
Aqui se chega ao grande violonista Paulinho Nogueira, que planejou a seguinte estratégia para gravar o "Samba em prelúdio":
1.ª parte - a melodia com notas mais graves;
2.ª parte - a melodia com notas mais agudas;
3.ª parte - a 2.ª utilizando-se da 1.ª como playback.
Mas, ao criar o arranjo violonístico, Paulinho descobriu que poderia dispensar o playback para gravar  a última parte. Se, para tanto, ele executasse as duas primeiras partes simultaneamente (vídeo). Coisa de gênio!


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