"Os rios atravessam nossas civilizações como fios através de contas", escreveu Olivia Laing. "Há um mistério sobre os rios que nos atrai para eles, pois eles se originam de lugares escondidos e viajam por rotas que nem sempre serão amanhã onde podem ser hoje."
Mas esse mistério caótico e repleto de civilizações pode ser sustentado por um das verdades matemáticas mais elementares da natureza.
Em 1996, o cientista da Universidade de Cambridge Hans-Henrik Stølum publicou um artigo anunciando sua descoberta surpreendente de que o pi (π) estaria atuando sobre os caminhos flexíveis dos rios do mundo para torná-los, de seus meandros aparentemente caóticos, com um padrão matematicamente previsível. Em sua simulação, usando dados empíricos e modelagem de dinâmica de fluidos, ele descobriu que os caminhos oscilantes dos rios - a sua sinuosidade, calculada dividindo o comprimento sinuoso real do rio pelo comprimento da linha direta traçada entre a fonte e a foz, era em média 3,14.
Os dados de um crowdsourcing não conseguiram replicar a média obtida por Stølum, embora a amostra do crowdsourcing fosse muito pequena para provar ou refutar um modelo teórico que abordasse a média total de todos os rios do mundo. Contudo, o que é mais interessante do que a descoberta em si é a própria noção de que o pi - ou qualquer número - poderia sustentar padrões aparentemente caóticos na natureza.
Citando a descoberta de Stølum, Simon Singh escreveu:
O número π foi originalmente derivado da geometria de círculos, e assim reaparece repetidas vezes em várias circunstâncias científicas. No caso de sua relação com o rio, o aparecimento de π é o resultado de um embate entre a ordem e o caos. Einstein (filho) foi o primeiro a sugerir que os rios têm uma tendência para um caminho cada vez mais contorcido porque a curva menos acentuada levará a correntes mais rápidas no lado externo, o que resultará em maior erosão e uma curvatura mais acentuada. Quanto mais fechada a curva for, mais rápidas serão as correntes na borda externa, maior a erosão, mais o rio se contorcerá, e assim por diante. No entanto, existe um processo natural que reduzirá o caos: o aumento da aglomeração resultará em rios que se dobram sobre si mesmos e efetivamente causam curto-circuito. O rio ficará mais reto e a alça será deixada de lado, formando um lago em "U" (oxbow lake). O equilíbrio entre esses dois fatores opostos leva a uma razão média de π entre o comprimento real e a distância direta entre a fonte e a foz.
Webgrafia
http://blogdopg.blogspot.com/2018/03/o-serpentear-dos-rios.html
http://blogdopg.blogspot.com/2018/03/segunda-geracao.html
https://www.brainpickings.org/2018/06/21/pi-rivers/
https://en.wikipedia.org/wiki/Sinuosity
https://www.theguardian.com/science/alexs-adventures-in-numberland/2015/mar/14/pi-day-2015-pi-rivers-truth-grime
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