30 novembro, 2006

TECP no Hospital de Messejana

No término de 2005, a administração do Dr. Petronio Leitão adquiriu para o Hospital de Messejana os equipamentos necessários à realização do Teste de Exercício Cardio-Pulmonar (TECP). No início do presente ano, os equipamentos foram instalados em uma sala exclusiva no setor da Ergometria. Os primeiros exames, feitos em pacientes da cardiologia, passaram a ser realizados no hospital pela cardiologista Dra. Márcia Sales, já nos primeiros meses de 2006. E, nos meses mais recentes, pelos cardiologistas Dr. William Perdigão e Dr. Elcias Camurça.
A partir de outubro, na condição de indicado pelo Serviço de Pneumologia para o TECP, passei a realizar também o teste. Inicialmente em voluntários para, quando os aspectos operacionais do teste estivessem bem assimilados, a seguir poder realizá-lo em pacientes pneumológicos.
Este objetivo foi hoje pela primeira vez alcançado. Com o atendimento de uma paciente do Hospital de Messejana, com 41 anos de idade, sedentária, oriunda do ambulatório de controle do tabagismo, a qual necessitava do TECP para avaliar a sua intolerância ao esforço físico.
Pelas peculiaridades do teste, quando este é realizado pela pneumologia, o mesmo foi precedido de uma espirometria (que forneceu parâmetros espirométricos de interesse ao TECP) e foi também acompanhado da oximetria de pulso (face à possibilidade de ocorrer queda na saturação da hemoglobina durante o exercício).
O registro está feito.

29 novembro, 2006

Árvore, livro e filho



Já plantei uma árvore.
Quando ela estiver grande, bem grande
haverá celulose bastante
para o papel de um livro em branco.
A ser talvez escrito por um filho
menos cansado de esperar.

Obs.
Foto apenas ilustrativa.

Credo do DNA

Publique-se com a citação da fonte:

"Creio no DNA todo poderoso,
criador de todos os seres vivos.
Creio no RNA, seu único filho,
que foi concebido por ordem e graça do DNA polimerase.
Nasceu como transcrito primário,
padeceu sobre o poder das nucleases, metilases
e poliadenilases.
Foi processado, modificado e transportado.
Desceu do citoplasma e em poucos segundos
foi traduzido à proteína.
Subiu pelo retículo endoplasmático, pelo complexo de Golgi
e está ancorado à direita de uma proteína G
na membrana plasmática.
De onde há de vir a controlar a transdução de sinais
em células normais e apoptóticas.
Creio na Biologia Molecular, na terapia gênica
e na biotecnologia.
No seqüenciamento do genoma humano,
na correção das mutações,
na clonagem da Dolly,
na vida eterna.
Amém."
www.humornaciencia.com.br

28 novembro, 2006

Espirometria do mês

Hoje, na sessão do Serviço de Pneumologia do Hospital de Messejana, apresentei a “Espirometria do Mês”.
Um paciente do sexo masculino, 63 anos, tossidor crônico, ex-fumante de 60 anos-maço (abstinente há 1 ano), encaminhado para a espirometria com o diagnóstico prévio de doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC). Mostrava a espirometria a capacidade vital forçada (CVF) e o volume expiratório forçado do 1º segundo (VEF1) reduzidos. Situando-se os valores encontrados para estes parâmetros em 69 e 68 por cento dos valores de referência, respectivamente. Contudo, a relação entre estes dois resultados originava um terceiro, o índice de Tiffeneau, dentro da faixa da normalidade. Quanto à prova broncodilatadora não demonstrava variações significativas de fluxo e/ou de volume.
A combinação desses resultados, na forma como ocorreu, induziria a se pensar na existência de um distúrbio restritivo. Sem que houvesse o respaldo nos dados clínicos que, aliás, apontavam para a possibilidade de um distúrbio obstrutivo. Ao se recorrer às Diretrizes para Testes de Função Pulmonar (SBPT, ano 2002), na interpretação IV das espirometrias, evidenciou-se se tratar de um distúrbio inespecífico. Após o descarte progressivo, feito no algoritmo selecionado, dos outros padrões de distúrbio ventilatório.
Não é o distúrbio inespecífico uma vala comum para receber os distúrbios ventilatórios quando estão mal tipificados. Tanto que a pletismografia de corpo inteiro, uma técnica considerada padrão-ouro para os volumes pulmonares, mantém o distúrbio inespecífico como uma entidade distinta.
Então, quando concluir pela ocorrência do distúrbio inespecífico? Segundo as Diretrizes, quando forem atendidas às seguintes exigências:
1. Ausência de dados clínicos para restrição ou presença de dados para suspeita de obstrução.
2. Capacidade vital acima de 50 por cento da prevista.
3. Capacidade vital após broncodilatador ainda reduzida.
4. Fluxo expiratório de 25 a 75 por cento da capacidade vital relacionado com a própria capacidade vital abaixo de 150 por cento.
5. Capacidade de difusão normal.
O caso apresentado, cujos resultados obtidos de CVF, VEF1 e índice de Tiffeneau já haviam indicado para o seguimento da interpretação IV das Diretrizes, também atendia às quatro primeiras das exigências acima citadas. Restando apenas a quinta, a capacidade de difusão, como exigência não atendida por não haver sido realizada. Sendo a justificativa não dispor deste exame no Hospital de Messejana.

27 novembro, 2006

Leitos de UTI

A Secretaria da Saúde do Ceará disponibiliza atualmente 223 leitos de UTI em sua rede de hospitais próprios em Fortaleza.
Deste número o Hospital de Messejana participa com 62 leitos, o que representa 20 por cento da quantidade total dos leitos existentes no hospital.
Uma oferta superior a que recomenda a Organização Mundial de Saúde, que é de 10 por cento, para os hospitais considerados terciários.
Fonte: www.saude.ce.gov.br/internet

26 novembro, 2006

Caminhando e aprendendo - 1

NENÚFARES
No Parque do Cocó onde gosto de fazer minhas caminhadas apareceram alguns nenúfares. São plantas aquáticas formadas por folhas flutuantes, entre as quais despontam botões que florescem, e que fazem de um recanto do mangue o seu novo habitat. Para o enlevo dos fortalezenses que circulam nas trilhas do parque.
Na natureza há muitas espécies de nenúfares. A mais famosa delas é a vitória-régia, nativa dos rios da bacia amazônica, cujas folhas alcançam dois metros de diâmetro. E dizem que uma delas é capaz de suportar o peso de uma pequena criança. Sem que ambas afundem.
Admito ser isso possível mas antes preciso de alguma prova. Uma foto que alguém me envie, por exemplo.

Bossanova

Um grupo de compositores - Tom, Vinicius, Baden, Lira, Menescal, Bôscoli e outros - criou uma obra musical ímpar no Brasil e no mundo. Eternizada na batida do violão de João Gilberto e na voz de Nara Leão, a musa do movimento inovador.
Levando-se em consideração que tudo aconteceu em um curtíssimo período. De 1958 a 1965.
Por isso, estou com Caetano Veloso quando disse:
"O Brasil precisa merecer a bossanova."

25 novembro, 2006

Testes de exercício físico

Dos dois testes de exercício físico disponíveis para avaliar as doenças cardio-pulmonares os mais comumente usados são o teste de caminhada de 6 minutos (TC6M) e o teste de exercício cardiopulmonar (TECP).
TC6M
Este teste simples mede a distância máxima que um paciente pode andar em seu próprio ritmo durante 6 minutos. O teste avalia globalmente a capacidade de exercício, porém não fornece informação específica sobre os múltiplos sistemas orgânicos (cardíaco, pulmonar, hematológico, músculo-esquelético) relacionados com o exercício, nem avalia o grau de esforço desenvolvido pelo paciente. É usado em pacientes com doenças cardíacas e pulmonares para avaliar a aptidão cardiorrespiratória, predizer a mortalidade, verificar a existência de problemas difusionais (pela queda na saturação de oxigênio da hemoglobina), indicar transplantes e monitorar as respostas às intervenções terapêuticas e à reabilitação. O TC6M, que exige o estrito seguimento de um protocolo para ser confiável, é considerado um teste de intensidade sub-máxima.
TECP
Este teste computadorizado fornece uma análise – respiração-a-respiração – das trocas gasosas respiratórias durante um período de exercício físico. A intensidade do exercício é aumentada até o paciente evidenciar os níveis máximos de esforço ou, então, até que passe a apresentar sintomas (por exemplo, falta de ar, fadiga e dor torácica). Os dados sobre o fluxo de ar, o consumo de O2, a produção de CO2 e a freqüência cardíaca são coletados e integrados para a formação de diversos gráficos e tabelas. Além dos dados obtidos com a monitorização pela eletrocardiografia dinâmica, como acontece na ergometria convencional, e pela oximetria de pulso. Planejado para durar de 8 a 12 minutos, o esforço físico necessita de um ergômetro, do tipo esteira ou do tipo bicicleta, para ser executado. O TECP, entre outros parâmetros, determina o limiar anaeróbio (de modo indireto) e a capacidade aeróbica (VO2max), daí o amplo uso do teste em programas de condicionamento físico. Em medicina o TECP é usado para definir que sistemas estão contribuindo para os sintomas de um paciente com intolerância ao esforço, e em que extensão isso está acontecendo. Como teste se mostra mais sensível, em muitas situações, para detectar doenças cardiopulmonares do que aqueles que são feitos com o paciente em repouso. As suas aplicações incluem a determinação da aptidão cardiorrespiratória, a mensuração do grau de incapacidade, a avaliação objetiva da dispnéia e de sua origem, o diagnóstico da asma induzida por exercício, o estabelecimento de prognósticos clínicos, a seleção de candidatos para transplantes de coração e pulmão e, finalmente, as respostas às intervenções terapêuticas e à reabilitação.

Os dois testes descritos são realizados no Hospital de Messejana (PGCS).

24 novembro, 2006

Dicas de fazer

  1. Tudo que merece ser feito merece ser bem feito.
  2. Tudo pode ser feito tão simples quanto possível, mas não mais simples (Einstein).

Sobre a silicose

A silicose é uma doença pulmonar ocasionada pelo trabalho em locais em que existe a ocorrência de sílica inalável. No Ceará, a doença foi registrada pela primeira vez em 1986, em cavadores artesanais de poços na Região da Ibiapaba (foto abaixo). Nos últimos anos, estudos por nós realizados mostram que o problema da silicose em nosso estado é bem mais extenso: cavadores de poços de outras regiões (por exemplo, de municípios do Cariri Oriental) e pessoas com outras ocupações, tais como trabalho em pedreiras (em Caridade), mineração e jateamento de areia (em Fortaleza) vêm sendo acometidas pela doença. Contudo, ainda não se dispõe de um mapeamento completo das áreas e das ocupações de risco para a silicose no Ceará.
Por ser a silicose uma doença crônica que cursa com grande sofrimento, freqüentemente incapacitante e para a qual não existe um tratamento eficaz, os principais esforços devem ser aplicados na prevenção primária. Com esta ordem de prioridade:
  1. Eliminar a exposição não usando a sílica ou usando-a nas menores quantidades possíveis e de forma que ninguém se exponha.
  2. Quando não se pode eliminar completamente a exposição à sílica livre cristalizada, então controlar ou minimizar a emissão de poeira de sílica para o ar.
  3. Se não for possível controlar a exposição à sílica cristalizada por qualquer método, então fornecer equipamentos de proteção respiratória para os trabalhadores.

Aqueles que continuam expostos ao risco devem ser periodicamente examinados para a detecção precoce da doença. Se constatado o agravo, devem ser afastados do trabalho de risco, avaliados quanto ao grau de comprometimento pela doença, periciados quanto à incapacitação e, ao longo da vida, acompanhados em suas evoluções e intercorrências clínicas por médicos e outros profissionais de saúde.

23 novembro, 2006

Thanksgiving

Faz parte da tradição norte-americana o seu presidente poupar a vida de um peru na véspera do Dia da Ação de Graças. Bush apareceu em público poupando do sacrifício o seu peru (o que gorgoleja, bem entendido).
Mas a História não o livrará de ser o principal responsável pela morte de cerca de 150 mil iraquianos, na maioria civis, que a guerra e seus desdobramentos causaram até o momento no Iraque. Uma matança cuja moeda de troca tem sido os seus patrícios também mortos (3 mil) e feridos (20 mil) no atoleiro iraqueano.
Negócios com petróleo e com empresas construtoras, à parte.

Silicose no XXXIII CBPT

O XXXIII Congresso Brasileiro de Pneumologia e Tisiologia, realizado recentemente no Centro de Convenções de Fortaleza, teve um primoroso planejamento e organização da parte de suas comissões. À frente, Dra. Márcia Alcântara, pneumologista cearense de escol, que presidiu com competência o congresso.
Tive a honra de ser palestrante do Fórum: Estágio Atual da Silicose no Brasil, com o tema No Estado do Ceará. Os outros palestrantes foram: Dr. Antonio de Deus Filho (No Estado do Piauí), Dra. Ana Paula Scalia Carneiro (No Estado de Minas Gerais), Dr. Albino José de Souza Filho (Na Região Sul do Brasil), Dr. Eduardo Algranti (SP, Projeto Marmorarias). Coordenou o fórum o Dr. Jefferson Benedito Pires de Freitas, de São Paulo.

22 novembro, 2006

As aparências enganam

  1. Azulejo em geral não é azul.
  2. Não existe o átomo do cloro na molécula da clorofila.
  3. Micose fungoide não é doença por fungo, apesar do que os dois nomes sugerem.
  4. A abreviatura também não dispensa uma abrev. para si.
  5. O fósforo não está nos palitos e sim na lixa da caixa.
  6. A Guerra dos Cem Anos entre a França e a Inglaterra durou 116 anos.
  7. A cor da caixa-preta dos aviões é laranja.

Caçadores de tatus

Na sessão do Serviço de Pneumologia do Hospital de Messejana, realizada em 14 de novembro, o colega Fabrício Costa apresentou 2 casos clínicos semelhantes com o mesmo diagnóstico. Em comum o fato de os portadores da doença, ambos procedentes do município de Aiuaba - CE, serem praticantes da caça de tatus. Procurados como fonte alimentar, os tatus são perseguidos em suas tocas pelos caçadores que, para capturar os animais, também precisam de cavar. Nesse procedimento, poeiras que contêm grandes quantidades de fungos são levantadas do chão e inaladas pelos caçadores. Os fungos, que são da espécie Coccidioides immitis, o agente causal da coccidioidomicose - a doença que esses dois pacientes apresentavam - e que se mostram abundantes em certos tipos de solo. Notadamente naqueles que são encontrados nas regiões semi-áridas.
A coccidioidomicose, que é uma doença endêmica em regiões dos Estados Unidos, México e América Central, há cerca de 30 anos também começou a ser descrita no Brasil. Na Bahia, no Piauí e no Ceará, distribuída em casos isolados ou em pequenos surtos, e quase sempre relacionada com a atividade de caçar tatus. No Ceará, os casos foram registrados em Crato (1), Aiuaba (4) e Boa Viagem(1). O deste último município, que foi também acompanhado pelo Fabrício Costa no Hospital de Messejana, em que houve a evolução para o óbito, recebeu publicação em 2000 no Jornal de Pneumologia.
No recente congresso nacional da SBPT, transcorrido em Fortaleza, tive a oportunidade de conversar com Antônio de Deus Filho, emérito pneumologista de Teresina - PI, responsável pela descoberta da relação da silicose com a ocupação de cavar poços. E ouvir dele a informação sobre a ocorrência no Piauí de dezenas de casos de coccidioidomicose em caçadores de tatus. Com a oportuna conclusão de que revolver terras, em perfuração de poços ou na captura de tatus, é um ato de duplo risco: para silicose e para coccidioidomicose. Por isso, o pneumologista nordestino esteja sempre preparado para lidar com as duas enfermidades, inclusive quando associadas.

21 novembro, 2006

A ACSM informa

"Todo norte-americano adulto deve realizar 30 minutos ou mais de atividades físicas moderadas em quase todos (de preferência todos) os dias da semana."

A ACSM é a American College of Sports Medicine, emitiu esta mensagem em 1995. Vale para o brasileiro também.

20 novembro, 2006

Medicina com rodízio - 1

CHUTANDO E RECAUCHUTANDO
Ano de 1971. Cumpríamos o internato de seis meses em Clínica Médica no serviço do professor Paulo Marcelo, uma legenda da medicina cearense. Junto com o nosso grupo, havia colegas para os quais o período na Clínica Médica era bem mais curto. Porque os seus futuros interesses profissionais estavam focados em outras áreas da medicina, e a estas dedicariam, durante o rodízio do ano de internato, um maior tempo para o aprendizado. Um destes colegas, futuro cirurgião, após haver inquirido e examinado um paciente recém admitido, prestava contas do que fizera. Ao emérito professor, com este acompanhado de uma horda de discípulos. E vinha o colega, a respeito do assunto, apresentando um desempenho, digamos, bastante razoável. Até chegar ao exame físico, precisamente à massa abdominal que motivara a internação do doente no Hospital das Clínicas da UFC. Ora, uma massa examinada, ao ser descrita, tem que se dizer o tamanho, a relação com os planos superficiais e profundos, a ocorrência de alguma pulsação, a consistência... Faltava que o aluno dissesse a consistência, o professor lembrou esse esquecimento.
- De borracha, disse o aluno.
Estranhamos todos a descrição. Órgãos e patologias no ser humano não costumam apresentar esta consistência. Nem era um certo herói de revista em quadrinhos, o homem de borracha, que havia sido examinado. Portanto, o colega precisava esclarecer urgente o assunto.
- Borracha de pneu, complementou ele.
Mas a sensação de estranheza continuava pairando no ar da atônita enfermaria. Até que o aluno proferisse a descrição final, aquela que foi capaz de encerrar toda e qualquer discussão.
- Borracha de pneu de caminhão.
Sem dúvida, estávamos na frente de um grande admirador da obra de Charles Goodyear.

Silicose em Trabalhadores de Pedreiras

SILICOSE EM TRABALHADORES DE PEDREIRAS NO MUNICÍPIO DE CARIDADE - CEARÁ
RESUMO DE PESQUISA

Dr. Paulo Gurgel Carlos da Silva
http://lattes.cnpq.br/7028287559656819
Hospital de Messejana e Secretaria da Saúde do Estado do Ceará

Introdução: No período de 1993 a 2001, foram identificados e confirmados no Hospital de Messejana 14 casos de silicose em pacientes que haviam trabalhado (ou ainda estavam trabalhando) em pedreiras no distrito de Inhuporanga, município de Caridade - CE. Todos os pacientes pertenciam ao gênero masculino, com as idades entre 30 e 58 anos, e haviam trabalhado de 9 meses a 8 anos em pelo menos uma das duas pedreiras da região. Todos eram sintomáticos respiratórios, sendo que 11 (78,8%) apresentavam formas aceleradas e/ou complicadas da silicose e, durante o citado período de observação, 8 (57,1%) vieram a falecer da doença ou de suas complicações.
Objetivo: Estudar a extensão da silicose relacionada com o trabalho em pedreiras no município de Caridade – CE.
Método: A partir de 2001, iniciou-se um trabalho que consistiu de: 1) Visita técnica de uma equipe multiprofissional, constituída por médico pneumologista, médico do trabalho, geólogo e enfermeira, às duas pedreiras de Caridade para avaliar as condições de trabalho. 2) Coleta de amostras das pedras usadas nas pedreiras para realização da análise litológica. 3) Reunião com membros da comunidade para avaliar o grau de informação sobre os riscos ocupacionais e ambientais da exposição às poeiras produzidas nas pedreiras. 4) Cadastramento dos trabalhadores e ex-trabalhadores das pedreiras. 5) Exames clínicos e radiológicos dos indivíduos cadastrados para detecção de possíveis casos novos de silicose.
Resultados: 1) A comprovação da existência irregular de 2 pedreiras no distrito de Inhuporanga, uma localizada em área urbana e outra em área peri-urbana, onde os trabalhadores realizavam as atividades de quebra manual de pedras, britagem, mesclagem, ensacagem e transporte dos produtos, sob condições de trabalho que não atendiam às normas mínimas da higiene ocupacional. Acrescida da suspeição de que os trabalhadores sofriam a exposição máxima na etapa da britagem, em decorrência das poeiras geradas pelos trituradores. 2) O exame litológico no NUTEC de amostras dos três tipos de pedras (branca, marrom e preta) oriundas das pedreiras revelou: calcário, quartzo e basalto, com 2,50%, 97,72% e 28,83% de sílica, respectivamente. 3) Membros da comunidade, por conhecimento prévio de casos de trabalhadores das pedreiras que haviam adoecido e morrido por doenças respiratórias, já atribuíam estes desfechos à exposição ao pó de pedra. 4) O cadastramento registrou a existência de 123 indivíduos que haviam trabalhado ou ainda estavam trabalhando nas pedreiras. 5) Examinados até o momento 102 dos 123 trabalhadores cadastrados, através da busca ativa, foram descobertos mais 31 casos de silicose, com o predomínio nesta segunda série de casos das formas simples sobre as formas complicadas. Nas situações pertinentes foram também desenvolvidas ações de controle sobre a tuberculose e o tabagismo e, de um modo seletivo, foram também realizadas espirometrias com provas broncodilatadoras no Hospital de Messejana.
Conclusões: A ocupação em pedreiras praticada no distrito de Inhuporanga, município de Caridade – CE, por haver causado 45 (44,1%) casos de silicose, em um universo de 102 trabalhadores examinados até o momento, mostrou-se como uma atividade de elevado risco para o adoecimento por silicose. E para que esta doença se manifestasse amiúde com gravidade, visto que 23 (51,1%) dos 45 casos de silicose foram das formas aceleradas e/ou complicadas (de mau prognóstico). Dentre as complicações observadas no período destacou-se a associação com a tuberculose, que foi confirmada em 5 casos (3 na forma pulmonar, 1 na forma pleuro-pulmonar e 1 na forma pleural). Dos 14 pacientes que se submeteram à espirometria, 12 apresentaram resultados anormais, com disturbio ventilatorio restritivo em 8 e obstrutivo em 4. E, no prosseguimento da observação até o ano de 2006, mais 4 pacientes vieram a falecer, elevando para 12 (26,6%) o número total de óbitos por silicose na casuística.
Comentário Final: Informes dão conta do encerramento das atividades nas duas pedreiras de Caridade. Mas o que aconteceu aos seus trabalhadores serve de alerta para a verificação das condições em que funcionam as empresas congêneres em outras regiões do estado do Ceará.

Agradecimentos: Dra. Sandra Solange Leite, Dra. Joilda Furtado (in memoriam), Dr. Pedro Henrique (médico da DRT-CE).

19 novembro, 2006

Rico x Pobre

Rico correndo é atleta, pobre correndo é ladrão.
Pobre rouba, rico desvia.
Filho de rico ganha mesada, filho de pobre, mãozada (Zé Pinto).
Para ir trabalhar rico pega o carro, o carro pega o pobre.
Se trabalho fosse bom, rico não deixava nenhum para o pobre.
Rico só aperta o cinto no avião.
Quando pobre come galinha, um dos dois está doente (Barão de Itararé).
As únicas pessoas que se gabam de haverem sido pobres são os ricos.
Pobre só come carne quando morde a língua.
Pobre só vai prá frente quando leva topada.
Rico tem gota no pé, pobre tem gota na cabeça (epilepsia).
Pobre mete a mão no bolso, quando puxa só acha os dedos.
Vídeo-game de rico é Nitendo, de pobre é... não tendo.
Pobre só levanta a cabeça para ver se vai chover (Itararé).
Atrás do pobre anda um bicho.
Mais rico, mais “ridico”.
Pobre não tem problema, tem “pobrema”.
E riqueza é só a metade da metade.
Rico come caviar, pobre, o que vier.
O pobre invade e o rico incorpora.
Nunca prometa a um pobre, nunca deva a um rico.
O rico saca, o pobre saqueia e o político... sacaneia.

A UTI, 10 anos de seu funcionamento

Agora, a UTI completou os seus 10 anos de funcionamento. E quais têm sido as repercussões positivas da sua existência no Hospital de Messejana? Arriscamo-nos a enumerá-las:

Melhoria da qualidade no atendimento aos pacientes pulmonares internados neste e em outros hospitais. A UTI Respiratória tem representado um apoio de alto nível com relação às unidades de internação da pneumologia, quando seus pacientes sofrem intercorrências e agravamentos clínicos. E, através da Central Estadual de Regulação do SUS, disponibiliza leitos para os enfermos pulmonares em estado crítico internados em outros hospitais.
“Reoxigenação” do serviço de pneumologia. A UTI Respiratória possibilitou aportar em nosso serviço um bom número de pneumologistas e de outros profissionais. Exemplifiquemos com o pneumologista José Dumas Ferreira Gomes, anteriormente lotado na UTI Pós-operatória, transferido para a UTI Respiratória logo que ela foi criada. O colega Dumas que, após uma proficiente passagem pela chefia da UTI (em substituição a Fábio), é o atual chefe do Serviço de Pneumologia do Hospital de Messejana.
Campo de prática para médicos, enfermeiros, fisioterapeutas etc. Contempla a Residência Médica, em seu programa de pneumologia, o médico residente com períodos de estágio na UTI Respiratória. Por considerar a ele indispensável, no exercício desta especialidade, os conhecimentos na área da terapia intensiva. Além disso, é um dos setores do Hospital de Messejana onde o ideário da integração multiprofissional, assimilado e exercitado na prática diária, vem-se mostrando com toda a plenitude.
Realização de trabalhos e pesquisas científicas. A UTI Respiratória Professor Mário Rigatto, como se estivesse sob as efluências do pesquisador que homenageia, vem-se constituindo em um celeiro destas atividades. São trabalhos e pesquisas da lavra de seus profissionais e estagiários que, apresentados em congressos e publicados em revistas, muito têm contribuído, nos últimos anos, para elevar o conceito do Hospital de Messejana perante a comunidade científica nacional (Paulo Gurgel Carlos da Silva).


A UTI Respiratória do Hospital de Messejana

No início de 1995, em uma reunião no gabinete de Frederico Augusto de Lima e Silva (o recém nomeado diretor do Hospital de Messejana), na qual relatei as necessidades do Serviço de Pneumologia do hospital, uma delas recebeu a sua imediata atenção. Não dispúnhamos, no mais importante hospital cearense destinado a cardiopatas e a pneumopatas, para este último tipo de paciente uma unidade de terapia intensiva própria. Ficávamos, nos casos mais graves da pneumologia, na dependência de um difícil encontro de leito vago em UTI da cardiologia do Hospital de Messejana. Ou, ainda, em não poucas vezes, na contingência de transferir os pneumopatas em estado mais grave para os leitos de terapia intensiva de outros hospitais. Assim se, por um lado, os pacientes transferidos obtinham o benefício de um ambiente com recursos técnicos mais adequados ao tratamento, por outro, ficavam distanciados dos cuidados clínicos dos especialistas da pneumologia.
Portanto, urgia ser criada uma UTI de natureza respiratória para o Hospital de Messejana. Tomada essa importante decisão, Frederico e eu (o relator de tais carências por haver sido guindado à chefia do Serviço de Pneumologia), buscamos as primeiras adesões à causa. E convidamos dois profissionais do próprio hospital, o pneumologista Francisco Fábio Barbosa Benevides, que viria a ser o primeiro chefe da UTI, e a enfermeira Maria Elzenir de Sousa Moreira, para que integrassem o grupo de trabalho incumbido de criar a UTI. Convites aceitados, uma idéia surgiu e prosperou no grupo. Antes de tudo, deveríamos organizar e realizar no Hospital de Messejana um evento científico de atualização e motivação para a nova empreitada.
Na época, sabíamos da existência em São Paulo de um médico cearense, Marcelo Alcântara Holanda, que concluíra de forma brilhante uma pós-graduação em pneumologia na Escola Paulista de Medicina. Foi consenso de que ele deveria ser contatado e convidado a vir a Fortaleza. Aqui, em nosso hospital, ministraria um curso de curta duração na área da terapia intensiva. O que veio a ocorrer em maio de 1995, de 29 a 31, período em que Marcelo ministrou em nosso hospital um Curso de Ventilação Mecânica. No último dia do evento, como programado, também se realizou uma oficina de trabalho em que, aos participantes do curso juntaram-se alguns funcionários da área administrativa do Hospital de Messejana, para discutir as bases da futura UTI.
Detalhes, muitos detalhes... Seria uma terapia intensiva de quantos leitos? Quais os seus indispensáveis equipamentos? Necessidades em pessoal para o seu funcionamento? Como seria a rotina de admissão dos pacientes? A UTI receberia também os pacientes operados da cirurgia torácica?
Mais: deveria a UTI Respiratória ser construída no pavilhão cirúrgico onde já ficavam a UTI Cardiológica e a UTI Pós-operatória? Ou deveria ficar no entorno das unidades de internação da pneumologia. Prós e contras levantados e debatidos, no encerramento daquela oficina de trabalho, decidiram-se os seus participantes pela segunda opção. E, em uma vistoria local, já vislumbramos a situação da futura UTI. Com os seus domínios onde ali estavam: as salas da chefia do Serviço de Pneumologia e da Comissão de Controle de Infecção Hospitalar (que viriam a ser mudadas de local), além de uma pequena parte da Unidade H, uma enfermaria com 2 leitos (que seriam desativados).
Em 5 de julho de 1996, construída com a capacidade para 5 leitos, era inaugurada a UTI – a primeira do Norte-Nordeste do Brasil inteiramente dedicada a pacientes pulmonares. Com o nome de UTI Respiratória Professor Mário Rigatto, estando presentes na inauguração as principais autoridades do Estado do Ceará e o próprio professor homenageado, acompanhado de sua esposa, Profª. Maria Helena da Silva Pitombeira. Numa justa deferência a quem tanto o ensino e a pesquisa no Brasil estávamos a dever uma homenagem. Professor Rigatto, com grande freqüência, vinha ao Ceará e de uma forma generosa dividia conosco os seus conhecimentos de mestre e pesquisador. Naquela ocasião se resgatava com ele uma grande dívida.
Durante os primeiros meses de sua existência a UTI inaugurada enfrentou problemas. O primeiro, uma resultante da carência de profissionais já treinados em terapia intensiva, foi a dificuldade de encontrar médicos para a escala de plantões. Com empenho, buscando os já existentes neste e em outros hospitais, o problema foi solucionado. O segundo consistiu na demora em serem os leitos da UTI Respiratória credenciados pelo SUS, o que inclusive ocasionou um período de serviços prestados e não ressarcidos. Mas, graças à atuação firme do diretor Frederico, remanejando dos recursos globais da instituição, teve a UTI Respiratória o custeio e a sobrevivência assegurados enquanto persistiu a situação.
Em 2005, a UTI Respiratória, já dando sinais de estar subdimensionada para atender as crescentes demandas, necessitou de passar por uma ampla reforma. Cuidou desse remodelamento o atual gestor do Hospital de Messejana, Petronio de Vasconcelos Leitão. E a nossa UTI, ampliada em sua área física pela reforma, teve a capacidade aumentada para oito leitos, dois deles para o isolamento de pacientes. Além disso, recebeu respiradores e equipamentos de monitorização clínica em versões mais modernas. Adequando-se, como resultado final destas melhorias, aos novos padrões exigidos pelo Ministério da Saúde (Paulo Gurgel Carlos da Silva).

Cegos e elefante

Quantos cegos são necessários para ver um elefante?



Basta um que faça a apalpação completa.

18 novembro, 2006

Breve História do Hospital de Messejana

Com a sua construção iniciada em 1930 e a sua inauguração em 1º de maio de 1933, sob o nome de Sanatório de Messejana, o atualmente denominado Hospital de Messejana foi o resultado do idealismo de um trio de médicos - João Otávio Lobo, Lineu de Queiroz Jucá e Pedro Augusto Sampaio – diante de um instigante desafio: assistir com humanismo aos pacientes tuberculosos do estado do Ceará. Na época, pela inexistência de drogas com real eficácia sobre a tuberculose, ocupava uma posição de relevo na tisiologia o modelo sanatorial, em que os pacientes eram afastados do convívio social para se submeterem a medidas higieno-dietéticas. E também para se submeterem, em associação com as medidas conservadoras, a intervenções cirúrgicas como o pneumotórax, o pneumoperitônio, a frenicoparalisia, a plumbagem, a operação de Eloesser e a toracoplastia.
Com esta primordial destinação de atender o paciente tísico, o Sanatório de Messejana iniciou as suas atividades – como uma instituição de caráter privado – com apenas 20 leitos. E assim permaneceu até o ano de 1940, quando passou a enfrentar sérias dificuldades econômicas, que ameaçavam a sobrevivência da instituição. Coube ao Instituto de Previdência do Estado do Ceará (IPEC), então presidido pelo Dr. Plácido Aderaldo Castelo, vir em socorro do tisiocômio, o que aconteceu quando foi adquirido o imóvel com os seus principais equipamentos. Com a efetivação desta compra pelo IPEC, livrou-se o Sanatório de Messejana da insolvência e passou a ser um sanatório público.
Em 1944, assumiu a direção do Sanatório de Messejana o tisiologista Dr. Carlos Alberto Studart Gomes, cargo que ocupou até 1983, quando se aposentou do serviço público. Foram 39 anos de uma competente e profícua administração que, quando de sua conclusão, havia conduzido o pequeno sanatório do IPEC à situação de um modelar hospital do Instituto Nacional de Assistência Médica da Previdência Social (INAMPS), com 200 leitos destinados ao diagnóstico e tratamento das doenças torácicas.
Remonta a 1968 a desativação de duas das suas unidades de tisiologia (o aparecimento dos tuberculostáticos deslocara o tratamento da tuberculose dos sanatórios para os dispensários) para convertê-las em unidades de internação de pacientes cardíacos. Por haver intuído Dr. Carlos Studart, diante do cenário da crescente importância epidemiológica das doenças cardiovasculares no mundo e no Brasil, que o estado do Ceará já estava a necessitar de um hospital especializado no atendimento destas enfermidades. Dois anos após (em 1970) estava estruturado o serviço de cardiologia do Hospital de Messejana. E, em agosto do mesmo ano, este hospital foi palco da realização de uma cirurgia cardiovascular com circulação extra-corpórea, a primeira do gênero no Norte e Nordeste do país.
Atualmente, ocupando no bairro de Cajazeiras, município de Fortaleza, uma área total de 62.910m2, com uma área construída de 18.910m2, o Hospital de Messejana, apesar das sucessivas ampliações por que passou, ao longo dos anos, ainda conserva em linhas gerais o seu estilo dos anos 30. Horizontal, com os pavilhões interligados, como foi idealizado o sanatório pelo arquiteto húngaro Emilio Hinko, também autor de plantas de muitos outros prédios históricos em Fortaleza. E, desde 1990, integra a rede de hospitais próprios da Secretaria da Saúde do Estado do Ceará, como um hospital de nível terciário e de referência em doenças cardíacas e pulmonares para os pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS).
As transformações que incorporaram os serviços de cardiologia e de cirurgia cardiovascular (responsáveis pelo segundo maior número anual de transplantes cardíacos no Brasil) não afastaram o Hospital de Messejana do atendimento aos pacientes pulmonares. Aliás, este hospital, que inicialmente era restrito à assistência de tuberculosos, ao longo da gestão do Dr. Carlos Studart e das administrações daqueles que o sucederam, gradativamente se capacitou e se equipou para um propósito ainda mais abrangente. Qual seja, o de atender à pluralidade das pneumopatias: DPOC, asma, bronquiectasias, pneumonias, câncer pulmonar, patologias da pleura e do mediastino, pneumoconioses etc.
Mas, como a mostrar que não esquece o “ideal tisiológico” dos que o criaram, continua o Hospital de Messejana a participar da luta antituberculose no Ceará. Com um ambulatório multiprofissional, considerado de referência em nível estadual, para diagnosticar e tratar os portadores de tuberculose multirresistente a drogas. E com a disponibilidade de realizar nesses pacientes, quando há criteriosa indicação, as operações pulmonares ressectivas. Além de preservar em sua estrutura organizacional o Centro de Estudos Manuel de Abreu – uma perene homenagem ao médico brasileiro que inventou a abreugrafia (Paulo Gurgel Carlos da Silva).

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