03 fevereiro, 2019

Trauma

Me lembro daquele dia triste. Enquanto meu pai brincava tranquilamente com seu revólver na sala, repetindo umas cenas que ele tinha visto em Roy Rogers, mamãe se dedicava a, pacientemente, preparar o jantar. Tia Cotinha havia dito a ela que era possível fazer maionese no liquidificador, era só cuidar bem das quantidades e do ponto ao bater.
Meu pai, com toda a segurança, passou, então a outro jogo com a arma: colocou uma bala só no tambor, aí ficava girando-o rapidamente, várias vezes. Parava e atirava, às vezes mirando nele mesmo, às vezes em mim. Sempre dava "clic", sem nenhum disparo. Claro, a probabilidade era de 1 pra 6 a favor do clic!
Enquanto isso, mamãe seguia na cozinha, agora com o liquidificador ligado, colocando o azeite para completar a maionese, segundo a receita de tia Cotinha. Papai rodou o tambor e… mais um clic, divertido, relaxado.
Mas, naquele momento, a tensão com o fio de azeite e o movimento da hélice do liquidificador desconcentraram mamãe; mais do que isso, a desorientaram e a fizeram perder o equilíbrio. A tragédia foi inevitável. Ela caiu dentro do liquidificador e se liquefez.
Nem deu tempo de papai puxar o gatilho uma última vez. Uma tragédia perder mamãe assim.
Desde então, eu prometi a mim mesmo: "Ou denuncio o perigo dos liquidificadores ou não me chamo Onyx Lorenzoni!"
Texto de Jayme Serva, Blue Bus

HAVE GUN



No Preblog: ARMA QUENTE - 1 e ARMA QUENTE - 2

Nenhum comentário: