- - - Os livros epistolares não são atraentes para todos (embora figurem entre meus favoritos), mas as histórias narradas sob a forma de cartas constituem uma tradição antiga desde os tempos de São Paulo. A não ficção epistolar incorpora a virtude adicional de uma vida real, tal como narrada (seja qual for sua veracidade e o que quer que seja ocultado) por seu protagonista.
Muitos historiadores têm lamentado o declínio das cartas escritas em papel passível de ser preservado como uma terrível perda para seu ofício. A tecnologia moderna colocou-se numa situação paradoxal. Costuma-se presumir que as informações tornam-se mais ricas à medida que nos aproximamos dos tempos atuais, pois um número maior de tipos de registros deve passar a existir, daí resultando menor perda e deterioração.
Agora, entretanto, a maioria de nossos comunicados é remetida de uma vez por todas para o esquecimento permanente, através de um fio de telefone, e muitas de nossas cartas (senão sua maioria) existem apenas no espaço cibernético do correio eletrônico e noutros dispositivos similares (nos quais, é claro, podem ser transferidas para o papel, mas podem, com igual probabilidade, ser atiradas num reino perdido, juntamente com nossos telefonemas).
Extraído de: "Prefácio" de Stephen Jay Gould (do Museu de Zoologia Comparada da Universidade Havard) para "As Cartas de Charles Darwin: Uma Seleta, 1825 - 1859", editadas por Frederick Burkhardt (com tradução de Vera Ribeiro)
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