22 fevereiro, 2019

A arqueologia de uma bolsa

Tradução: PGCS

Da bolsa
Luís Fernando Veríssimo

Por dentro, mulher não é muito diferente de homem. Fora nas partes óbvias, em que somos convexos e elas são côncavas, e em um ou outro detalhe, somos iguais. Anatomicamente, portanto, a mulher não tem mistério para o homem. Ali fica o coração, ali o fígado, ali (onde mesmo?) o pâncreas... Igualzinho a nós. Não é verdade que elas têm glândulas secretas que a medicina ainda não se animou a examinar a fundo, como as que determinam o seu comportamento na direção de veículos automotores e no shopping. Temos (mais ou menos) as mesmas glândulas.
Só duas partes da mulher continuam a desafiar a compreensão dos homens: sua mente e sua bolsa. Sabemos muito pouco do conteúdo de ambas e estamos constantemente nos surpreendendo com o que sai lá de dentro. E quando pedimos explicações, elas despistam.
O cérebro feminino não é biologicamente diferente, que eu saiba, do cérebro masculino e uma bolsa de mulher não deveria ser diferente de qualquer outro meio de guardar e transportar coisas, mas as surpresas se repetem. Tanto a mente quanto a bolsa femininas parecem ter acessos a mundos, mananciais, veios, supridores inacessíveis ao pensamento ou à mão do homem. De onde é que elas tiram aquilo tudo?!
É uma pergunta que nos atormenta desde aquele momento em que a Eva não só teve a idéia de comer a fruta proibida como produziu - de onde, meu Deus? - o canivete para descascá-la e uma toalha para estender na grama, e nunca mais fomos os mesmos.[...]

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