11 novembro, 2025

Envelhecer juntos é bom por isso

transporte de bobinas de aço

Conchita, Diego, Henrique e eu - o motorista - voltávamos de um sítio em Brumadinho.
Faltando apenas seis quilômetros para Monlevade, uma carreta carregada com bobinas de aço (como as da imagem acima) veio em sentido contrário, virou na curva e lançou as bobinas na direção destes Cunhas.
Algumas rolaram ribanceira abaixo, mas uma delas - com o codinome sai-da-frente - resolveu seguir firme para o destinatário em São Paulo. Veio com boa pontaria na nossa direção, enquanto eu freiava para escapar do impacto. (A D20 era nova...)
A bobina, porém, não teve dó, nem respeito, nem nada: continuou rolando, implacável.
Conchita gritou:
-Vai bater!
Se batesse, viraríamos papel de jornal em tintas vermelhas.
Sem alternativa, virei o volante para o barranco - e caímos, confiados de que quatro anjos da guarda e oito asas seriam suficientes.
Que nada! Estavam socorrendo outros - afinal, a BR-381 é conhecida como rodovia da morte.
Os dois meninos nada sofreram; estavam no banco de trás. As portas não abriram com o capotamento. Conchita, ao final da queda, teve escoriações leves, e eu quebrei o mais improvável dos ossos: o dedo médio - justamente aquele que mostramos “a quem nos tem ofendido”.
O coitado estava agarrado ao volante, mas ainda assim se partiu.
Nos meus mais escusos pensamentos, confesso que imaginei: será que, no meio do reboliço, não estiquei a mão pra fora com o dedo em riste?
Enfim, salvaram-se todos - exceto um revólver que fora de meu pai.
Deve ter sido encontrado por algum amigo disposto a vingar o motorista da carreta; por essas bandas, a vingança ainda é costume - e, graças a Deus, tenho ótimos amigos.
Perdi também um microscópio cirúrgico, que a esta altura deve estar servindo para operar cataratas em algum lugar.
A camionete, que Deus a tenha em boa garagem no Céu, teve a piedade de se amassar toda para nos deixar quase inteiros.
Assim, tivemos a sorte de não morrer jovens, para sentir as dores da velhice - essas são teimosas e aparecidas.
Todo dia uma delas me acorda com uma fisgada: ora na perna, ora no braço, ora na testa.
Só não dói o ovário - mas a Conchita sente alguma fisgada por lá.
Envelhecer em casal é bom por isso.
Nelson José Cunha

10 novembro, 2025

A Teoria da Relatividade Especial é tipo um "Manual de Instrução do Universo"?

A Teoria da Relatividade Especial de Einstein (1905) não é exatamente um "Manual de Instrução do Universo", mas é uma das ferramentas mais poderosas que temos para entender como o cosmos funciona em altas velocidades e na ausência de intensa gravidade.

Por que ela é tão importante?
  • Revolucionou conceitos básicos como espaço, tempo, massa e energia.
  • Unificou eletromagnetismo e mecânica sob novas regras.
  • Mostrou que tempo e espaço são relativos (dependem do observador).
  • Introduziu a famosa equação E = mc2, que relaciona massa e energia.
Mas... é um "manual completo"?
Não exatamente, porque:
  • Ela não explica gravidade (a Relatividade Geral faz isso).
  • Não incorpora a mecânica quântica (o mundo das partículas subatômicas).
  • O Universo tem outros "manuais" (como a Termodinâmica, a Física Quântica etc.).
Então, seria mais como...
Um "Capítulo Essencial do Manual" — um que mudou para sempre nossa visão da realidade. Se você quer entender como o Universo funciona em altas velocidades (próximo da luz), essa teoria é fundamental.

Um exemplo bizarro dela em ação?
Se você viajar quase à velocidade da luz, o tempo passa mais devagar para você do que para quem ficou na Terra (dilatação temporal).

Outros manuais de instrução: LINKS
- do maiô
- da pedra de estimação
- da torradeira
- da ordenhadeira
- da motosserra

09 novembro, 2025

O violão de 7 cordas

Nada me fará sofrer / Pois trago junto ao coração / O bojo do meu violão cantando / Nada me dá mais prazer / Nem mesmo uma grande paixão / Que o som das sete cordas / Do meu violão tocando.

A História do violão de 7 cordas começou com o violonista e compositor francês Napoleon Coste (1805 – 1883).
Napoleon Coste, em conjunto com o luthier René Lacote, projetaram um modelo de violão que tinha uma corda suplementar, denominado de "heptacorde". Essa 7ª corda não passava pelo braço do instrumento e, assim, não podia ser pressionada pelos dedos da mão esquerda.
Essa 7ª corda era afinada conforme a tonalidade da peça a ser executada. Podia então ter a afinação em Dó, Ré, Si etc. Veja um dos modelos da época na figura abaixo.
Na Rússia, do final do século XIX e começo do século XX, o violão de 7 cordas era bastante usado, na música popular e cigana. E, com a 7ª corda incorporada à escala do instrumento, o tal violão já tinha muito a ver com o instrumento que conhecemos hoje. 
No violão de 7 cordas, a afinação atualmente mais frequente para a sétima corda é C1 (Dó grave). Esta afinação é especialmente comum no choro, no samba e em outros estilos da música brasileira, onde a corda extra proporciona uma região grave mais ampla, permitindo linhas de baixo mais ricas.
Afinação padrão do violão 7 cordas (mais comum):
1ª corda – E4 (Mi agudo)
2ª corda – B3 (Si)
3ª corda – G3 (Sol)
4ª corda – D3 (Ré)
5ª corda – A2 (Lá)
6ª corda – E2 (Mi grave)
7ª corda – C2 (Dó grave)
Variações ocasionais:
  • Em alguns contextos (como no jazz ou na música clássica), a sétima corda pode ser afinada em B1 (Si grave) para manter um intervalo de terça em relação à sexta corda (E2).
  • No rock/metal, alguns guitarristas usam afinações mais graves (como B1 ou até A1), mas isso é menos comum no violão de 7 cordas tradicional.
Se você quer mergulhar no universo do 7 cordas, comece por Horondino Silva () e Raphael Rabello () – são a base! Depois, explore Yamandu Costa para uma abordagem mais contemporânea. E outros como Paulão, Igor Souza e Lia Meyer Ferreira, do "Choro das 3".
No Ceará: Expedito (), Pedro Ventura (), Ribamar e Márcio Ramalho.
Neste vídeo, o 7 Cordas Raphael Rabello acompanha Amélia Rabello na valsa "Sete Cordas". Esta canção é dele (Raphael a compôs aos 14 anos) e de Paulo César Pinheiro (que assina cerca de 2 mil letras).
http://youtu.be/gqqZPxta4Vk?si=_OV8DF83SImPleNt

08 novembro, 2025

Não se deve engolir pilhas

Uma das coisas interessantes sobre eletricidade é que há mais carga em uma bateria tipo botão do que em um raio.
@lcamtuf@infosec.exchange na Mastodon jura que isso é verdade.
Um ampère é o fluxo de um coulomb (~6 quintilhões de elétrons) por segundo. Uma bateria CR2032 típica contém cerca de 200 mAh. Simplificando um pouco, isso significa que ela pode fornecer 1 mA por 200 horas. Uma hora equivale a 3.600 segundos, o que equivale a 720 coulombs.
Um raio típico é frequentemente estimado em 15 coulombs.
De qualquer forma, acho que é por isso que não se deve engolir pilhas.

07 novembro, 2025

Lô Borges (1952 - 2025)

Salomão Borges Filho, mais conhecido por Lô Borges, nasceu em 10 de janeiro de 1952, em Belo Horizonte, e tinha dez irmãos numa família com fortes vínculos musicais. Ainda adolescente, nos anos 1960, passava a maior parte do tempo no bairro de Santa Tereza, com os amigos, tocando violão em rodas que privilegiavam a bossa nova e o repertório dos Beatles.
Essa relação evoluiu para a formação do Clube da Esquina - a MPB de Minas Gerais.
No time, além de Lô, estavam seu irmão Márcio Borges, ao lado de Fernando Brant e Ronaldo Bastos, que eram os letristas da turma, os compositores Beto Guedes e Flávio Venturini, o guitarrista Toninho Horta, o pianista e arranjador Wagner Tiso e o baixista Novelli. À frente do grupo, Milton Nascimento, que já gravava discos individuais e alcançara o sucesso nacional com a canção "Travessia".

Vídeo: Lô Borges em "Um café lá em casa", com o violonista Nelson Faria

O artista morreu em Belo Horizonte, no último domingo (2), aos 73 anos, por falência múltipla de órgãos em decorrência de uma intoxicação medicamentosa.
Da obra de Lô Borges: 
"Feira moderna" (c/ Beto Guedes e Fernando Brant), "O trem azul" (c/ Fernando Brant), "Para Lennon e McCartney" (Márcio Borges e Fernando Brant), "Paisagem na janela" (c/ Fernando Brant) e "Quem sabe isso quer dizer amor" (c/ Márcio Borges), entre outras canções.

06 novembro, 2025

Jabuticaba, sua diversidade

Esta pérola mais brasileira do que todos nós - não é só a pretinha abundante que nasce, tem vida breve e morre sem viajar, tamanho o amor que dedica ao próprio tronco. Orgulhosa, não inveja a uva; não admite a humilhação de ser pisada.
Tem outras roupas para se vestir: a rajada, rara e cobiçada; a bordô (ou ponheca), de poucas sementes; e a verde, que amadurece verde - todas unidas pelo mesmo veneno que as torna irresistíveis: o veneno da doçura.
Até o pé é generoso e não se quebra com a escalada da freguesia. Tenho várias no meu quintal adolescente e me submeto a seus caprichos, pois ela gosta de se fazer esperar.
Os impacientes que comam melancias.
Nelson José Cunha

05 novembro, 2025

Discurso de Mamdani para aterrorizar um déspota

— Donald Trump, como eu sei que você está assistindo, tenho quatro palavras para você: "Turn the volume up" ["Aumente o volume", em inglês].
— Nova Iorque vai continuar sendo uma cidade de imigrantes. Uma cidade construída por imigrantes, impulsionada por imigrantes, e, assim como nesta noite, liderada por imigrantes.
— Então ouça, presidente Trump, quando eu digo: Para chegar a qualquer um de nós, você terá que passar por todos nós.
— Se alguém pode mostrar a uma nação traída por você como derrotá-lo é a cidade que o viu nascer.
— Neste momento de escuridão política, Nova Yorque será a luz.
N. do E.
Mamdani é jovem, muçulmano, socialista e nascido em Uganda de pais indianos. Vai governar Nova Iorque.

Deserto de Danakil, Etiópia

Conhecido também como Depressão de Danakil, este deserto é um dos concorrentes ao título de destino mais quente do globo, com temperaturas médias de aproximadamente 35 °C e ventos locais carregados de areia. Além do sol escaldante, a região recebe apenas de 100 a 200 milímetros de chuva por ano.
Vive por lá o grupo étnico dos povos cuchíticos, que supostamente descendem de Cam, filho de Noé. As mulheres dessas tribos nômades percorrem descalças até 20 quilômetros por dia, para apanhar lenha e buscar água. Todos os dias!


Agora, você certamente sabe por que o chamam de "depressão"?
Brincadeiras à parte, a verdadeira razão para a formação desta depressão é por ser a área onde três placas tectônicas se encontram. Além disso, a área está abaixo do nível do mar. Se a Holanda está apenas cerca de 6,7 metros abaixo do nível do mar, o deserto etíope chega a estar 118,3 metros abaixo da Holanda.
Neste deserto, você também pode encontrar lagos de lava, areias movediças, escorpiões e micróbios "extremófilos" (seja lá o que estes últimos signifiquem).
(https://www.ermamuseum.org/top-5-risky-destinations-around-the-globe.html)

04 novembro, 2025

Reclamação




Encontra-se no Museu Britânico esta placa de reclamação que foi descoberta na cidade suméria de Ur. É uma tábua de argila destinada a um comerciante de cobre de nome Ea-nasir, a qual foi enviada por um cliente chamado Nanni. Escrita em cuneiforme acadiano, ela é considerada a reclamação escrita mais antiga já descoberta.
Foi reconhecida pelo Guinness World Records como a "Reclamação de Cliente Mais Antiga" e tornou-se um meme da Internet devido à natureza anacrônica que ela apresenta.
Wiki

03 novembro, 2025

Genealogia cósmica

O que fez de você você
Cada um de nós é uma constelação casual de elementos forjados em estrelas mortas há muito tempo reunidas pela gravidade, que pode ser a outra palavra para Deus — a mais fraca das quatro forças fundamentais, mas o grande compactador cósmico que fez os primeiros átomos se unirem em um centro comum para formar a primeira estrela: uma imensa bola de gás, no centro da qual havia uma esfera de hidrogênio que eventualmente atingiu pressões de milhões de atmosferas e aqueceu até milhões de graus. Essas condições extremas desencadearam um novo fenômeno no cosmos — as primeiras reações de fusão nuclear : quando dois átomos de hidrogênio colidem com imensa força, nêutrons são transferidos de um núcleo para o outro, tornando alguns átomos maiores. Após uma série dessas colisões, um núcleo com dois prótons se forma e o segundo elemento — hélio — nasce. À medida que a estrela se inflama, iluminando a escuridão austera do espaço-tempo puro ao seu redor, ela continua queimando seu hidrogênio para produzir mais hélio. A fusão acelera, forjando carbono, depois neônio, depois oxigênio e assim por diante na tabela periódica, transformando a estrela em uma espécie de cebola com camadas de reações de fusão.
A maioria dos primeiros vinte e seis elementos da tabela periódica — os elementos que compõem quase tudo o que podemos tocar e ver — foram criados pela fusão nuclear em estrelas individuais. Se você pudesse marcar qualquer átomo individual em seu corpo e segui-lo para trás no tempo, por toda a outra matéria que ele compôs antes de se tornar seu — o corpo de sua mãe, a comida que sua mãe comeu, o solo em que essa comida cresceu, os estratos geológicos moídos pelos oceanos para fazer esse solo — você poderia rastreá-lo até o núcleo de uma estrela específica que viveu e morreu bilhões de anos atrás: um átomo real que agora está em você, tendo prevalecido sobre as infinitas probabilidades pelas quais ele poderia ter acabado em outra pessoa.
A essa máquina de acaso de Rube Goldberg (*) você deve toda a sua particularidade — altere qualquer parte dessa genealogia cósmica, e você teria acabado como outra pessoa.
Maria Popova, The Marginalian
N. do E.
O acaso é organizador mas precisa de tempo, muito tempo.

02 novembro, 2025

Máscaras

Máscara Negra, de Zé Kéti e Pereira Mattos
Com Augusto Martins e Marcel Powell
Na mesma máscara negra / Que esconde teu rosto / Eu quero matar a saudade.
http://youtu.be/FKBI8hvhpwo?si=Qc40qZ3_HYXdwq8o

Mascarada, de Zé Kéti e Elton Medeiros
Com Zé Renato
Na esperança de que / Tirasses esta máscara / Que sempre me fez mal / Mal que findou / Só depois do carnaval.
http://youtu.be/H6_0a6UrkD4?si=Bv85vO4q9-Bu21lZ

Pierrot, de Joubert de Carvalho e Pascoal Carlos Magno.
Com Silvio Cadas
Arranca a máscara da face, Pierrot / Para sorrir do amor que passou.
http://youtu.be/YV993Uaj6kI?si=3zLwS-EsHuKEa7lk

Baile de máscaras, de Guilherme Arantes (da trilha sonora da novela Espelho Mágico)
Com Guilherme Arantes
Num baile de máscaras qualquer / Colombina e Pierrô / Cansados de procurarem / Cada qual seu par / Se convidaram pra dançar.
http://www.facebook.com/guilhermearantesfaclube

Máscaras, rap de Delacruz
Delacruz ft. Sant e Tiago Mac
Agora eu quero ver você aparecer / A máscara caiu no final, baby / E fiz parecer que eu saí pra esparecer / E isso tudo é tão natural, baby
http://youtu.be/-HtO6t22xlA?si=BNp7FM3dQ0Vhy2qy

Noite dos Mascarados, de Chico Buarque
Com MPB4 e Quarteto em Cy (vídeo)
Hoje os dois mascarados procuram / Os seus namorados, perguntando assim: / Quem é você?

01 novembro, 2025

Pintores mais pesquisados

Em 2021, a loja britânica de materiais de arte Ken Bromley Art Supplies usou dados do Google para criar mapas que mostram quais são os pintores mais pesquisados (mais populares?) no mundo, em cada continente e em cada país.
No mundo:
#1 Leonardo da Vinci - 67 anos
#2 Frida Kahlo - 47 anos
#3 Van Gogh - 37 anos. Foi exceção.
#4 Artemisia Gentileschi - 60 anos
#5 Picasso - 91 anos
#6 Bansky - 51 anos
#7 Diego Velásquez - 61 anos
🎨
Um grande pintor somente fica famoso depois que morre?
É mito.
Tendo morrido aos 37 anos, Van Gogh foi exceção. Picasso, que morreu aos 91 anos, tornou-se célebre quando vivo.
E outros pintores famosos em vida e longevos foram: Goya - 82 anos, Michelangelo - 88 anos, Miró - 90 anos, Debret - 80 anos, Monet - 86 anos, Renoir - 78 anos, Botero - 91 anos, Hopper - 84 anos, Di Cavalcanti - 79 anos, Tarsila - 87 anos.