05 agosto, 2020

Mudança e identidade (2)

Ao visitar o Templo do Pavilhão de Ouro em Kyoto (foto), Douglas Adams ficou impressionado como aquela estrutura do século 14 havia resistido à passagem do tempo. Seu guia japonês disse-lhe que o edifício não havia resistido; de fato, ele havia queimado duas vezes no século XX.

"Então, este não é o edifício original?", perguntou Adams.
"Claro que é."
"Mas foi queimado?"
"Sim."
"Duas vezes."
"Muitas vezes."
"E reconstruído."
"Claro. É um edifício importante e histórico."
"Com materiais completamente novos."
"Mas é claro. Foi incendiado.
"Então, como pode ser o mesmo prédio?"
"É sempre o mesmo prédio."

"Eu tive que admitir para mim mesmo que esse era, de fato, um ponto de vista perfeitamente racional, apenas partindo de uma premissa inesperada", escreveu Adams. A essência de um edifício é seu projeto, a intenção do construtor. Os materiais podem se deteriorar e serem substituídos, mas são apenas instanciações de uma ideia persistente. "Eu não podia me sentir totalmente confortável com essa visão, porque ela lutava contra minhas suposições básicas ocidentais", escreveu Adams, "mas eu entendi o ponto".

- Douglas Adams, "Last chance to see"
http://www.goodreads.com/quotes/742883-i-remembered-once-in-japan-having-been-to-see-the

John Locke perguntou: "Se eu continuar remendando os orifícios da minha meia até que nenhum material original permaneça, é a mesma meia?". 

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