transporte de bobinas de aço
Conchita, Diego, Henrique e eu - o motorista - voltávamos de um sítio em Brumadinho.
Faltando apenas seis quilômetros para Monlevade, uma carreta carregada com bobinas de aço (
como as da imagem acima) veio em sentido contrário, virou na curva e lançou as bobinas na direção destes Cunhas.
Algumas rolaram ribanceira abaixo, mas uma delas - com o codinome sai-da-frente - resolveu seguir firme para o destinatário em São Paulo.
Veio com boa pontaria na nossa direção, enquanto eu freiava para escapar do impacto. (A D20 era nova...)
A bobina, porém, não teve dó, nem respeito, nem nada: continuou rolando, implacável.
Conchita gritou:
-Vai bater!
Se batesse, viraríamos papel de jornal em tintas vermelhas.
Sem alternativa, virei o volante para o barranco - e caímos, confiados de que quatro anjos da guarda e oito asas seriam suficientes.
Que nada! Estavam socorrendo outros - afinal, a BR-381 é conhecida como rodovia da morte.
Os dois meninos nada sofreram; estavam no banco de trás. As portas não abriram com o capotamento. Conchita, ao final da queda, teve escoriações leves, e eu quebrei o mais improvável dos ossos: o dedo médio - justamente aquele que mostramos “a quem nos tem ofendido”.
O coitado estava agarrado ao volante, mas ainda assim se partiu.
Nos meus mais escusos pensamentos, confesso que imaginei: será que, no meio do reboliço, não estiquei a mão pra fora com o dedo em riste?
Enfim, salvaram-se todos - exceto um revólver que fora de meu pai.
Deve ter sido encontrado por algum amigo disposto a vingar o motorista da carreta; por essas bandas, a vingança ainda é costume - e, graças a Deus, tenho ótimos amigos.
Perdi também um microscópio cirúrgico, que a esta altura deve estar servindo para operar cataratas em algum lugar.
A camionete, que Deus a tenha em boa garagem no Céu, teve a piedade de se amassar toda para nos deixar quase inteiros.
Assim, tivemos a sorte de não morrer jovens, para sentir as dores da velhice - essas são teimosas e aparecidas.
Todo dia uma delas me acorda com uma fisgada: ora na perna, ora no braço, ora na testa.
Só não dói o ovário - mas a Conchita sente alguma fisgada por lá.
Envelhecer em casal é bom por isso.
Nelson José Cunha