11 março, 2013

O português, essencialmente - 2

Em 12/02, a postagem "O português, essencialmente", do blog EntreMentes, foi republicada no Luis Nassif Online. Um mês depois, ocupa o 71.º lugar no ranking das postagens mais lidas. No mesmo período, houve um total de 1.842 inserções no Portal.
Dentre os 116 comentários feitos pelos leitores, destaco seis:
1 - Que bom a gente constatar aqui no blog este enorme interesse pela nossa amada Língua Portuguesa-Brasileira!
A propósito, tenho mencionado certas nuances que, reverberadas pelas mídias, impõem rapidamente um novo falar:
- possuir virou moda e está substituindo o ter a trancos e barrancos: possuo mãe, possuo 32 anos, e por aí vai;
- funcionário agora é qualquer pessoa que trabalhe, e não apenas aplicável a quem trabalha no serviço público; e empregado está desaparecendo, pelo menos nas mídias;
- fundo, que jamais deveria designar algo que acresce, que se avoluma, que sustém, é palavra usada no Brasil dos donos da grana para prover segurança financeira imaginem!! Agora mesmo o governo botou em operação o FUNpresp (FUN de fundo). Será que torcem para a montanha de dinheiro derruir desses fundos (de pensão, e outros) para irrecuperáveis buracos sem volta?
Antonio Francisco
2 - Isso é natural, umas palavras entram no uso, outras saem. Ter já substituiu haver, primeiro no sentido de ter mesmo (haver tinha esse sentido antes), depois no sentido de existir. Agora possuir está sendo usado como ter. Pode ser uma moda passageira, pode ficar, ninguém saberá antes de pelo menos uns 50 anos (rs, rs).
Anarquista Lúcida
3 - Li uma entrevista com o Paulo Ronai na qual ele dizia que sendo húngaro e filólogo, por causa da guerra, resolveu nos 1940s vir morar no Brasil. Nada sabia de português e conseguiu pouquíssimas fontes. Disse que só achou um romance na biblioteca. Filólogo e craque no latim e grego, e com facilidade para línguas, achou-se pronto antes de pegar o navio. Teve que parar em Portugal onde teve uma terrível surpresa: não entendeu nada e não conseguiu falar inteligivelmente com ninguém. Decepcionado consigo e triste, seguiu viagem e se preparou para reaprender aquilo que achava que controlava.
Chegando a Santos escutou: "Quer que carregue a mala, moço"; e entendeu a frase por inteiro e clara. Mais alguns minutos, descobriu feliz e espantado que sabia falar e entender o português. O que não entendia era o português de Portugal.
hc.coelho
4 - Algumas dessas citações (nenhuma que fale do espanhol...) são parcialmente verdadeiras. A que fala que o português "é a língua falada por galegos que decidiram ter um país próprio e independente" é historicamente verdadeira: até o séc. XIV as duas línguas ainda eram uma só, o galaico-português (aquela língua das cantigas de amor e de amigo, que antigamente líamos na escola).
As que falam que o "português brasileiro é, essencialmente, o latim sem consoantes" e "o português é, essencialmente, o português brasileiro sem vogais" refletem processos fonológicos que realmente ocorrem no PB e no PE: nós tendemos a "comer" consoantes, e o PE a comer vogais (as palavras querer e crer soam quase igual na boca dos lusitanos), e os versos de Camões ficariam de pé quebrado lidos por um português de hoje --- essa tendência do PE é recente, posterior ao séc. XVIII.
E todas as que falam na diferença entre os dois portugueses com base no ritmo também têm razao, o português brasileiro, que é uma língua altamente melódica (é uma língua de ritmo silábico, como o italiano, ao passo que o PE é de ritmo acentual, como o inglês).
Também têm razao as citações que falam em características "eslavas" do português. Isso se deve à alta palatalização do português, como também ocorre nas línguas eslavas. Minha mãe estava uma vez em Paris e ouviu falar português, mas, chegando mais perto, percebeu que não entendia nada. Era russo... Soa como o português.
Acho interessantíssimo como "definições" feitas na brincadeira, na base do ouvido, conseguem no entanto captar regularidades reais das línguas de que falam.
Anarquista Lúcida
5 - O português moderno é do tempo da independência de Portugal, no século XII, e o espanhol só se firmou por volta do século XV. Não é por Portugal estar mais distante de Roma do que a Espanha e a área de falantes ser menor que se pode pensar no português como uma língua mais recente. O que conta é quando a língua se estabilizou no seu modo escrito.
Talvez tenha se estabilizado precocemente, com o falar continuando a evoluir, porque das línguas modernas é a que mais sofre essas constantes revisões ortográficas (século XIX, anos 1940, anos 1970 e agora.)
Gunter Zibell - SP
6 - "Minha pátria é a língua portuguesa" - Bernardo Soares (Fernando Pessoa), citado por Caetano Veloso: "E deixem os portugais morrerem à míngua, Minha pátria é minha língua, Fala mangueira! (...) Minha língua é minha pátria, E eu não tenho pátria, tenho mátria e quero frátria!" http://youtu.be/g-asDtYtOgY
Jair Fonseca

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