Itamar Espíndola
Há mais de um século esteve em moda a diversão de escrever sentenças, intercalando algarismos. E não perdiam o sentido foneticamente. O ledor pode comprová-lo, guiando-se por estes exemplos do colunista:O escritor e Professor Sinésio Cabral sabe transpor os 1-brais (umbrais) da Poesia e nela adentrar-se facilmente.
Caso não per-2 (perdoes) o ofensor, ficarás enfermo, diz o vernaculista e poeta Waldemar Machado, conceituado Procurador da Justiça.
O Desembargador, Jornalista e Professor Edgar Amorim é avezado em 3-dobrar (tresdobrar) o trabalho, a ponto de lavrar dezoito acórdãos numa só manhã.
O escritor e Acadêmico Moreira Campos faz o diabo a 4 (diabo a quatro, isto é, coisas espantosas) na criação de romances.
O grande mestre em Português, Antônio Soares, Professor de quase três gerações, nunca tem 5-pe (síncope) de memória. Não obstante octogenário, repete de cor trechos de muito escritores. Alguns deles necessitam de dez minutos para a recitação total.
O poliglota e Professor Tarcísio Mota fala bem o fran-6 (francês).
O romancista e crítico literário Professor Abdias Lima, depois de muito pecar, vai dedicar-se a estudos as-7-cos (ascéticos)...
O teólogo, vernaculista e Professor Myrson Lima é competente cavalheiro, além de af-8 (afoito) em suas realizações.
O Advogado e Professor José Alberto Rola não perde tempo com 9-la (novela). Aproveita-se na atualização de seus bons conhecimentos de doutor em Direito Constitucional.
O Professor e Jornalista Adriano Pinto está 10-encantado (desencantado) com grande parte dos constituintes, pois muitos são assíduos em faltar as sessões...
O 10-tino (destino) do judicante e Jornalista Osmundo Pontes é conhecer terras e escrever argutamente livros sobre viagens culturais.
O br-11 (bronze) é liga metálica de estanho e cobre, cuja fortaleza se equipara aos conhecimentos linguísticos do vate e Professor Rebouças Macambira, mestre em Sânscrito.
Para suportar as agressões ao vernáculo, diz o glotólogo ilustrado, Professor Hélio Melo, é preciso ter boa 12 (dose) de paciência franciscana.
Inúmeras pessoas obtêm graças orando a 13-na (trezena) de Santo Antônio. Dele é devota a escritora e Bibliotecônoma Maria da Conceição Sousa, do Instituto do Ceará, portadora de fé cristã autêntica.
O "Príncipe dos Poetas cearenses", Acadêmico e Professor Artur Eduardo Benevides, tem capacidade para escrever um livro de Poesia em apenas uma 15-na (quinzena). Inspiração não lhe falta.
O mestre Oswaldo Riedel, Acadêmico e poliglota, 19-la (desenovela) difíceis problemas científicos.
O Acadêmico e professor Linhares Filho, mestre em Literatura, já escreveu uma 20-na (vintena) de aplaudidos livros.
No 30-rio (trintário, vale dizer, exéquias no trigésimo dia após o falecimento) do saudoso estadista Tancredo Neves, o povo ainda estava sob emoção.
Quando a pessoa 60 (se senta) em postura inadequada, curvando-se, o terceiro disco lombar é altamente prejudicado, segundo o escritor e Acadêmico Roberto Ribeiro, vocação para médico.
70 (se tenta) fazer crítica a qualquer livro, nenhuma dificuldade experimenta o poeta e escritor José Alcides Pinto, talento em ebulição permanente.
O Acadêmico e Professor Régis Jucá, um dos melhores cirurgiões, em Cardiologia, no Norte e Nordeste, não é mi-0 (mísero), apesar de rico. Gasta com prudência.
O Professor Edmilson Monteiro Lopes, forte no vernáculo e no Latim, tem feito 100-pre (sempre) ótimas sugestões sobre a reforma ortográfica.
1000-hares (milhares) de pessoas devem a saúde oral à habilidade do Odontólogo Antônio Canuto Bezerra, cujo trabalho é realizado com o sinete da alegria.
Nota - O colunista deseja dos ledores inventivos mais exemplos semelhantes aos desta lista. Os algarismos devem ser diferentes dos aqui mencionados. Publicá-los-ei.
N. do E.
Digitei para a publicação na internet o presente texto, de autoria do escritor e Advogado Itamar Espíndola, o qual foi originalmente publicado a 09/04/88, em sua coluna "Vinhetas", no jornal "O Povo". Como era do estilo de Itamar, o texto não apresenta a palavra "que", partícula considerada por ele como afeadora da Língua Portuguesa.
Contraditório
"Que queres que te diga, além de que te amo, se o que quero dizer-te é que te amo?" - Fernando Pessoa
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