17 março, 2021

Um físico interessante (2)

Se você pedisse a alguém para descrever como um físico "típico" parece e age, o que aconteceria? A imagem que a maioria das pessoas pintaria não seria muito lisonjeira e estaria de acordo com estereótipos bastante negativos. Estudos têm sido feitos em que as crianças são convidadas a desenhar um cientista, e os resultados são bastante consistentes com a variedade "cientista louco". Shows como "The Big Bang Theory" na televisão tipicamente retratam os físicos como indivíduos socialmente inaptos, não atléticos, genuinamente não-mundanos, em conformidade com estereótipos com os quais eu pessoalmente tenho me familiarizado desde que eu era muito jovem.

François Arago, um físico interessante
Caminhando um dia nas muralhas da cidade, o jovem Arago encontrou um oficial de engenheiros que supervisionava os reparos. Arago ficou intrigado com o homem e soube que ele poderia seguir uma carreira semelhante na Escola Politécnica, em que só poderia se inscrever passando por um difícil exame de matemática. Desse ponto em diante, Arago procurou e estudou atentamente as obras das principais mentes matemáticas e físicas da época. Quando chegou a hora do exame, ele estava mais do que preparado, apesar da hostilidade do examinador:
Afinal chegou o momento do exame e fui para Toulouse na companhia de um candidato que havia estudado em colégio público. Foi a primeira vez que alunos de Perpignan participaram da competição. Meu camarada tendo sido intimidado em seu exame ficou completamente desconcertado. Quando, logo depois dele, me dirigi para o quadro-negro, uma conversa muito singular aconteceu entre M. Monge (o examinador) e eu. (*)
"Se você vai responder como seu camarada, é inútil para mim questioná-lo."
"Senhor, meu camarada sabe muito mais do que demonstrou. Espero ter mais sorte do que ele, mas o que o senhor acabou de me dizer pode muito bem me intimidar e me privar de todos os meus poderes."
"A timidez é sempre a desculpa dos ignorantes. É para salvá-lo da vergonha de um fracasso que proponho não examiná-lo."
"Não conheço vergonha maior do que a que você agora me inflige. Você será assim tão bom para me questionar? É o seu dever."
"Você anda muito alto, senhor! Veremos em breve se isso é um orgulho legítimo."
"Prossiga, senhor. Estou confiante."
Arago não apenas passou no exame, mas o dominou, fornecendo várias técnicas para resolver as questões que lhe foram colocadas. Acabou por ocupar o primeiro lugar na lista de inscritos na Politécnica, no final de 1803, e destacou-se nos estudos.
Extraído de: François Arago: the most interesting physicist in the world! SKULLS IN THE STARS

(*) É admissível escrever «entre ele e eu»? Não deveria ser «entre ele e mim»?
Quando surge outra palavra entre a preposição e o pronome, autores como António Vieira e Castilho utilizam «entre ele e eu», «entre mim e tu». Um exemplo: «E entre o embaixador... e eu se concertou...» (Vieira, inéditos, III, 124).
Cf. Cândido de Figueiredo, "Lições Práticas" e "Gramática Sintética da Língua Portuguesa", Clássica Editora.
In: Ciberdúvidas da Língua Portuguesa

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