02 janeiro, 2021

A vantagem de ser padeiro

por Viriato Correia 
(em seu discurso de recepção a Raimundo Magalhães Júnior na ABL)
[...] Eu, Sr. Magalhães Júnior, posso dizer que é verdadeira a afirmação de João Ribeiro.
Houve, há tempos, aqui no Rio, um padeiro que tinha exatamente o meu nome. A sua padaria, ali no Catete, ostentava, na fachada, uma tabuleta em letras vistosas – Padaria Viriato Correia. Os jornais crivavam-me de pilhérias, os caricaturistas pintavam-me em mangas de camisa amassando pão, muita gente me fazia parar na rua para perguntar se eu havia deixado de escrever.
Mas, apesar de todos esses aborrecimentos, houve uma compensação, foi a época em que eu gozei de maior conceito. Gente que não me prestava nenhuma atenção, passou a me fazer rapapé, criaturas, que fingiam não me conhecer, passaram a me tirar reverentemente o chapéu. Mais de uma vez, nos bondes e nos ônibus, cavalheiros se levantavam para me ceder o lugar. De tal maneira me vi cercado de consideração que, até hoje, lamento não ter capital para montar uma padaria.

Um comentário:

Fernando Gurgel disse...


Na Padaria Espiritual, a única coisa que não se via era algo parecido com antropofagia, pois na capitania de Siará Grande não se admitia essas coisas entre os curumins. Estes buscavam a convivência lúdica, saldável e civilisada das cunhãs e cunhatãs, nos lugares apropriados, ou seja, nas alcovas, praças, cinemas, praias, pé de serra, caatinga, ribeirões, açudes e Cine São Luiz.

Em suma, em qualquer lugar onde havia uma cabrita saltitando de paixão, quase implorando para ser o prato principal das canetas antropófagas dos curupiras transformados em Padeiros.

Os Padeiros da Padaria Espiritual eram modernistas muito tempo antes de 1922 e os modernistas de 1922 foram Padeiros de um pão meio dormido, mas a fornada de seus pães foi muito mais abrangente e cosmopolita.

Sem ufanismos tolos, mas o Ceará é pioneiro em tanta coisa que um dia, algum historiador mais sério vai acabar provando que o Brasil somente foi descoberto quando os invasores portugueses avistaram os "verdes mares bravios onde canta a jandaia na fronde do carnaubal", ainda que existam registros históricos sobre os tais invasores aportarem - mesmo sem ter porto - em Porto Seguro e Cabrália.