16 outubro, 2014

A Sociedade de Autópsia


Alguns anos atrás, sábios de Paris organizaram uma sociedade de autópsia com o objetivo de aprofundar os conhecimentos sobre a estrutura e a fisiologia do cérebro, correlacionando as características intelectuais dos indivíduos necropsiadas com as aparências post mortem de seus cérebros.
A coisa toda foi considerada uma piada científica, mas a existência da sociedade foi um fato real para um de seus membros: M. Asseline, que, havendo falecido recentemente, teve o cérebro cuidadosamente examinado pelos companheiros sobreviventes, que fizeram um relatório completo dos resultados para a Sociedade de Antropologia de Paris.
O seguinte relato sobre o assunto encontra-se em Nature, de 14 de agosto de 1879, p. 377:
"M. Asseline morreu em 1878, com a idade de 49. Ele era um republicano e um materialista; possuía uma enorme capacidade de trabalho, grande faculdade de assimilação mental e uma memória extraordinariamente retentiva, e tinha uma disposição gentil, benevolente, gosto refinado e inteligência sutil. Como escritor, ele sempre demonstrou grande aprendizado, força incomum de estilo e elegância de dicção, e na sua relação com os outros era modesto, sensível e até mesmo tímido. No entanto, a autópsia mostrou circunvoluções espessas e grosseiras, que M. Broca diria serem características de um cérebro inferior. A fossa ou depressões, especialmente a parieto-occipital esquerda, estavam muito marcadas, que Gratiolet as consideraria de um personagem símio e um sinal de inferioridade cerebral frequentemente encontrados em mulheres (sic) e em alguns homens de inferioridade intelectual indiscutível. Os ossos cranianos eram, em alguns pontos, finos e translúcidos, a sutura frontal não era totalmente ossificada, e um grau de assimetria se manifestava, com destaque, na região frontal direita. Pesava o cérebro 1.468 gramas, ou seja, cerca de 60 gramas acima da média dada por M. Broca para a idade de M. Asseline. As aparentes contradições entre o peso do cérebro e o caráter marcado das depressões parieto-occipitais, atraíram muita atenção, e os membros da Société d'Anthropologie foram seriamente convidados por M. Hovelacque para, em prol da ciência, se juntarem à Société d'Autopsie, com a qual a antropologia já estava em dívida por muitas observações importantes."
Chicago Medical Journal and Examiner, citado em New Orleans Medical and Surgical Journal, de janeiro de 1880

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