23 junho, 2013

A Marcha da Família com Deus pela Liberdade

Foi o nome de uma série de manifestações públicas organizadas em março e abril de 1964 por setores conservadores da sociedade brasileira, nos Estados de São Paulo e da Guanabara, em reação ao anúncio do programa de reformas de base do presidente João Goulart.
A Marcha 2.0
A pauta das reivindicações difusas dos manifestantes também inclui temas "democráticos" como a volta dos anos de chumbo:


A verdade sobre a corrupção no Brasil
[...]Esses meninos, que passaram os melhores anos de sua infância e pré-adolescência eliminando monstros alienígenas no videogame e "tcl msg" (teclando mensagens) nas redes sociais, de repente se deram conta de que "nesse governo" há corrupção. Coisa nova para eles, que decerto creem ser algo nunca antes havido na história deste país, e de país algum. Não identificam a qual governo se referem, se federal, estaduais ou municipais, mas é de se supor que sua artilharia esteja voltada para o da presidente Dilma, por ser o mais visível de todos.
O que não sabem esses valorosos meninos e meninas, valentes guerreiros dispostos sinceramente a mudar o Brasil (o vandalismo é coisa de um pequeno grupo, sabemos), que dizem ter acordado agora para a dura realidade, é que desde o governo do presidente Lula a Polícia Federal vem combatendo duramente a corrupção. Toda semana, praticamente, há notícias de operações que levam legiões de corruptos e sonegadores de impostos para a cadeia.[...]
Não devem saber esses garotos, também, até porque não tinham idade para isso, que desde sua criação até a posse de Lula a Polícia Federal vivia numa letargia profunda, desaparelhada e mal remunerada. Mal se ouvia falar da corporação. Basta ver que, no primeiro ano do mandato do ex-presidente (2003), a PF realizou apenas 9 operações, que resultaram em 223 prisões. Não bastava, porém, aparelhar a Polícia Federal e inspirar-lhe a vontade política para passar a agir. Foi necessário primeiro higienizar a corporação. Naquele primeiro ano, foram presos 39 policiais federais, entre 122 servidores públicos mandados para a cadeia.[...]
Desde então, os números só cresceram. Esses dados estatísticos (citados e a seguir) foram extraídos do portal da Polícia Federal e, naturalmente, referem-se a outros crimes, além da corrupção e da sonegação fiscal. Há tráfico internacional de drogas e de pessoas, por exemplo.
O empenho da Polícia Federal continuou durante o governo de Dilma Rousseff. Em 260 operações realizadas em 2011, a PF prendeu 2089 pessoas, sendo 246 funcionários públicos, 4 deles policiais federais. Em 2012, foram 289 operações que resultaram em 1660 prisões (102 servidores públicos; 13 policiais federais).
Em 2013, a Polícia Federal já realizou até agora 94 operações e prendeu 561 acusados de corrupção, sonegação fiscal e outros crimes, sendo que 36 eram servidores públicos. Neste ano, nenhum policial federal foi preso.
É fácil assimilar manchetes de jornais e revistas, como as da rancorosa Veja, ou frases prontas que circulam pela internet, que atribuem casos de corrupção a este ou àquele governo - eles têm especial predileção pelo governo federal, do PT. Difícil é checar, aprofundar a pesquisa e conhecer a verdade.
Corrupção não se combate apenas com gritos de guerra em manifestações de rua. É preciso desenvolver técnicas especiais de investigação, ter vontade política e firmeza para executar as ações necessárias. Via de regra, é briga contra cachorro grande - afinal, os criminosos são políticos, governadores, prefeitos, secretários, empresários, advogados, gente graúda e influente. Feito o serviço de investigação e prisão, o resto será por conta do Judiciário, que é outro poder, que não se submete ao controle do Executivo.[...]

Manual de Ouro do Manifestante Idiota, Blue Bus

4 comentários:

Nelson Cunha disse...

De qual Dilma estamos falando?
Daquela que protegeu seu ministro Fernando Pimentel, o homem dos ganhos mal explicados? Da presidenta que deu a Maluf um ministério? Ou aquela que dá cargos no governo a tipos como Collor e Sarney? Tem ainda a Dilma que patrocina a candidatura de corruptos a presidência da Câmara e Senado.

O articulista sabe manejar os números a favor do governo, mas não responderia as indagações do primeiro parágrafo. Um homem nu não consegue convencer uma platéia puritana ao discursar contra a minissaia .

O último pronunciamento da presidenta onde procura capturar as bandeiras das ruas é de um cinismo exuberante.
Presidenta! Esse é um movimento de classe media e que sabe ler entrelinhas. É diferente da platéia domesticada por subsídios que lhe garantiu a vitória nas urnas.

Para mim, a incoerência na política é mortal.

E matou!

Paulo Gurgel disse...

Meu caro Nelson,
O objetivo desta nota não é tecer loas às excelências da presidente Dilma. É, sim, mostrar os riscos para a democracia de uma série de marchas que, iniciadas pelo Movimento Passe Livre (sob as ironias dos colunistas da direita), foram em seguida apoderadas pela direita, por grupos neonazistas e por toda sorte de baderneiros.
O desaguar em golpe não aconteceu apenas com a "Marcha da Família...". Há outros exemplos:
- Em maio de 1968, o gaullismo ficou mais forte ainda.
- Na Praça da Paz Celestial, Deng Xiao-Ping mandou os liberais embora.
- Na Praça Tahir, ganhou a direita muçulmana.
- Os indignados da Plaza Mayor, em Madrid, elegeram o Rajoy, um neo-franquista.
Para combater a corrupção o país já dispõe da Polícia Federal, das polícias civis, da Controladoria Geral da União, dos tribunais de contas etc. E a nota também apresentou o salto de eficiência da Polícia Federal nesta missão nos últimos dez anos. É da ordem de 20 vezes.
Para finalizar, devo dizer que diversas demandas dos manifestantes (no que pese a idolatria de muitos pelo recalcado JB) existem precisamente pelo mau funcionamento do Poder Judiciário.
Um abraço.

Nelson Cunha disse...

Paulo,
É difícil enquadrar esse movimento das ruas dentro dos conceitos envelhecidos de Direita e Esquerda. Os baderneiros e saqueadores estão sempre presentes, seja qual for a orientação ideológica da turba. O que há em comum entre os manifestantes é a insatisfação com o governo, qualquer governo.
É evidente que temos péssimos governos e parte da culpa pertence ao eleitor que é negligente ou alienado. A qualidade dos nossos políticos piora a cada eleição e sem uma radical reforma do sistema eleitoral não haverá solução.
Não vejo riscos para a democracia brasileira se houver alternância com governos de direita. Isso já acontece em outros lugares. A esquerda brasileira corrompeu-se e precisa ser derrotada e seus líderes processados e punidos. Uma nova esquerda surgirá, depurada desses burgueses em roupa operária. É assim que funciona uma democracia saudável. O que se vê hoje no Brasil é a cooptação da direita pelo governo que se diz de esquerda. Isso é péssimo!

Outra reforma indispensável é das instituições auditoras como os Tribunais de Conta. O que se
vê é um faz de conta. Os Ministros desses tribunais são geralmente ex -deputados indicados pelo governador a ser investigado. É absurdo e verdadeiro ao mesmo tempo.

Paulo Gurgel disse...

Daí a importância da ousadia de Dilma ao propor, nesta segunda-feira, 24-06-2013, um plebiscito para a composição de uma constituinte exclusiva para a reforma política (parada/paralisada há 25 anos). Ela enfrentará inúmeras resistências da oposição, muito fogo amigo, e até mesmo empecilhos jurídicos. Mas só o fato de colocar uma discussão importante como essa em pauta já é muito louvável.
Concordo(amos):
Quanto à dificuldade para controlar a infiltração dos movimentos de rua pelos arruaceiros, quanto à justeza da alternância no poder (pelo voto) de partidos de orientações ideológicas diferentes e quanto à necessidade de corrigir os vieses dos tribunais de contas.
Um abraço.
Um abraço.