"Em noite de estrepitosa confraternização etílica entre as mesas do Antonio's, no Leblon dos anos de 1970, alguém se aproxima do ouvido de um dos mais exaltados convivas e cochicha:
- Otto, você está falando alto demais, se houver informante da repressão por aí, você se ferra.
Num rompante que misturou sofisticado bom humor e uma calculada dose (sem trocadilho) de ousadia, Otto Lara Resende subiu na cadeira e proclamou, alto e bom som:
- Digo e repito para quem quiser ouvir: a ditadura militar é o maior atraso do Brasil, tem de acabar e vai cair. Se algum dedo-duro estiver presente, pode anotar: meu nome é Fernando Sabino!"
(colaboração de Fernando Gurgel Filho)
Sabino formava, com Hélio Pellegrino e Paulo Mendes Campos, o trio de amigos inseparáveis de Otto, os quatro cavaleiros do apocalipse mineiro, todos saídos de Belo Horizonte na década de 1940 e radicados no Rio, desde então. Mas Otto teve dezenas, talvez centenas, de outros amigos, quase todos fascinados pela conversa a um tempo solta, divertida e invariavelmente culta e bem informada do grande "causeur". Nelson Rodrigues, um desses admiradores, chegou a agregar um apêndice ao título de uma de suas peças mais célebres: "Bonitinha mas ordinária, ou Otto Lara Resende".
Outra do Otto
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