"Se eu pudesse escrever n'águaDevem ter-se passado pelo menos uns dez anos, eu ouvindo gente cantando ou recitando esses versos nas modinhas de rua e de festas de criança e batendo minha cabeça para adivinhar o significado daquilo. Mais especificamente, o que teria a água a ver com a pedra.
como escrevo no papel
escrevia o teu nome
na pedra do meu anel."
Passando certa vez por Nanuque e adjacências foi que vi, em praças, pessoas vendendo pedras semi-preciosas e compradores perguntando sobre a qualidade da "água" da pedra.
Saquei que água é transparência, neste caso (vi depois esta definição no Houaiss); ou seja, procura-se associar, na prática, uma boa qualidade para a gema (pedra preciosa, ou semi) à quantidade de luz que a perpassa.
Porém, nós do interior éramos seres de coisas, não de palavras. Vivia-se de concretudes. Por exemplo, até o capeta existia como ser-no-mundo, ente corporificado a zanzar pelas esquinas atazanando aqui e ali.
Daí que, para os conhecedores das gemas, a água da pedra era o próprio material por onde a luz penetrava.
Portanto, escrever n'água é escrever na superfície transparente de uma gema.
Antonio Francisco. In: blog/luisnassif/fora-de-pauta-418
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