1. Por exemplo, ele possuía duas mil concubinas. As mulheres mais lindas do Egito, colhidas nos povoados e nas cidades às margens férteis do Nilo como se fossem petúnias olorosas. Só que Amásis nunca sequer encostou o dedo real em qualquer delas. Nunca! Porque Amásis era um marido fiel, agora veja. Amava sua esposa e só fazia sexo com ela. (1) As outras duas mil moças não se afastavam dos limites do harém, intocadas, condenadas à virgindade perpétua, a não ser que algum dos eunucos se mostrasse um pouco mais animado.
2. Faraó de um dos períodos de maior prosperidade do Egito, ele se vestia com fausto e jamais repetia uma roupa. Depois de usá-la, doava-a para um de seus felizes súditos. (2) Também não ocupava uma residência por mais de um ano depois de construída, e o palácio que abandonava igualmente era repassado a um servidor. (3)
3. Não bastasse ser assim perdulário, Amásis ainda desenvolvera o hábito de dormir vigiado por um leão de olhos azuis que só obedecia às suas ordens. O leão fora presente de um adivinho que vaticinou: se o faraó se afastasse da fera, acabaria assassinado. (4)
In: COIMBRA, David. Jogo de Damas. Porto Alegre, RS: L e PM, 2011. 192p.:il.
N. do E.
(1) A escrava Ródope, ex-amante de Esopo e que calçava 33 (provável inspiração para o conto da Cinderela, do francês Perrault), foi a única exceção.
(2) Lavar ou não lavar a roupa, eis a questão. Era pelo odor da roupa que o novo dono decidia isso.
(3) "Meu Palácio, Minha Vida", um dos programas faraônicos de Amásis.
(4) Um leão, mesmo de olhos azuis, não seria páreo para as duas mil concubinas que cometeram o regicídio, enfurecidas com a podolatria de Amásis.
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