29 março, 2015

O mores!

Ontem
O delegado Sérgio Fleury cristalizou-se na história recente do Brasil como a principal estrela dos grupos que torturavam nos porões da ditadura civil-militar. Guerrilheiros capturados eram barbarizados para revelar pontos de encontros com seus companheiros. Outras vezes eram devastados fisicamente por puro sadismo. No governo do presidente Ernesto Geisel, da ala moderada, a cúpula militar teve de refreá-lo, pois, como alguns militares, estava fora de controle — como se tivesse licença para matar, ao estilo de James Bond, mas sem a elegância deste. Entretanto, antes de Geisel, o formulador da política da distensão (abertura), Fleury, que viajava de Sul a Norte do país em busca de torturáveis, era protegido pelo governo. As gestões de Costa e Silva e Emilio Garrastazu Medici o protegeram e o financiaram — quando morreu afogado (suspeita-se de "queima de arquivo", porque sabia e falava demais), tinha um alto padrão de vida — durante anos. Era delegado mas comportava-se como um "coronel sem farda". Era temido até por policiais civis e militares. Por conta de seu envolvimento numa execução articulada pelo Esquadrão da Morte, a Justiça decretou sua prisão preventiva em 1973. Imediatamente, o governo Medici  pressionou o Congresso Nacional para aprovar a Lei nº 5.941. A Lei Fleury, como ficou conhecida, "permitia a todos os réus primários e de bons antecedentes responder ao julgamento em liberdade, inclusive se fossem condenados em primeira instância ou se seus processos não tivessem sido julgados em instância superior". Com base nessa lei, Fleury foi absolvido, de modo unânime, pelo 2º Tribunal do Júri de São Paulo, em 1974. Como prêmio pelos serviços prestados à ditadura, o Torquemada dos trópicos "foi condecorado como o policial do ano".
Nota extraída da edição 1914 do Jornal Opção para reavivar a memória dos antigos e novíssimos simpatizantes de uma "ditadura constitucional" no Brasil.
Hoje
O juiz Sérgio Moro propõe prisões antes do trânsito em julgado.

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