05 fevereiro, 2021

Verbos auxiliares de si próprios

Em expressões como "vai indo", "vem vindo", há indiscutível cunho pleonástico; são, porém, ambas formas corretas, e podem ser empregadas normalmente no vernáculo. Veja-se, nessa esteira, o exemplo de Camilo Castelo Branco: "Parece-me que são horas de vir vindo o jantar". 
Em realidade, trata-se de caso em que o verbo vir acaba sendo auxiliar de si próprio, em construção perfeita e correta, como também demonstra o seguinte exemplo de Machado de Assis: "Vieram vindo depois os bravos, os apoiados, os não-apoiados, uma bonita agitação".
De maneira geral, as locuções verbais são formadas por um verbo auxiliar + verbo principal. O verbo auxiliar aparece flexionado, remetendo ao tempo, modo, número e à pessoa da ação verbal. O verbo principal aparece em formas nominais, quais sejam: gerúndio, infinitivo ou particípio.
Fiz uma compilação de outros exemplos em que os verbos "ir" e "vir" aparecem como auxiliares de si próprios:
"Eu vou indo, correndo, pegar meu lugar no futuro." Paulinho da Viola, "Sinal fechado".
"Podem preparar / Milhões de festas ao luar / Que eu não vou ir / Melhor não pedir / Eu não vou ir, não quero ir." Carlos Lyra e Vinicius de Moraes, "Você e eu".
"Ao chegar bem perto fez um sinal com o braço. Respondi com um gesto aflito de quem pede socorro. Ele deve ter entendido: fez uma volta e veio vindo por detrás, para passar bem em cima de mim." Fernando Sabino, "O menino no espelho".
"Pois vejo vir vindo no vento / O cheiro da nova estação." Belchior, "Como os nossos pais".
"Por meios e modos, sortimos arranjados animais de montada, arranchamos dias numa fazenda hospitaleira, e viemos vindo atravessando o Pardo e o Acari, em toda a parte a gente era bem recebida. Guimarães Rosa, "Grande sertão: veredas".

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