24 dezembro, 2014

Despedidas

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Em 1964, o escritor canadense Graeme Gibson comprou um papagaio no México. O pássaro, que Gibson chamou de Harold Wilson, foi hábil e carinhoso no início. Mas ele parecia crescer solitário no escuro inverno canadense, por isso, na primavera Gibson resolveu doá-lo ao jardim zoológico de Toronto.
No aviário, Gibson pôs Harold na vara de uma gaiola reservada para ele, disse adeus e se virou para ir embora.
"Então, Harold fez algo que me surpreendeu. Pela primeira vez, e exatamente com a voz que meus filhos poderiam ter usado, ele gritou 'papai!' Quando me virei para olhar para ele, ele estava inclinado para mim numa expectativa.
"Papai", repetiu ele.
"Eu não me lembro o que eu disse a ele. Algo sobre ele ser mais feliz lá, que ele iria em breve fazer amigos. O tipo de coisa que você diz para as crianças quando vai deixá-las num acampamento. Mas, fora do aviário, eu ainda podia ouvi-lo chamando 'papai! paizinho!', enquanto me afastava. Eu estava desolado ao descobrir que Harold sabia me chamar, e que ele fez isso porque ele se identificou com os meus filhos."
"Agora eu acredito que ele soubesse disso o tempo todo, mas estava usando - pela primeira vez - por desespero. Konrad Lorenz e Bernd Heinrich, ambos mencionam casos de aves que gritam os nomes particulares de amigos íntimos quando ameaçadas por um grave perigo. Eu não estou mais surpreso com tal informação. Pensamos em nossas aves em cativeiro como nossos animais de estimação, mas talvez nós sejamos deles também."
Gibson, Perpetual Motion, 1982
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