05 dezembro, 2014

Como reconhecer um ateu na multidão


DE HOMEM PARA HOMEM
— Ateu, não; agnóstico
— Pois eu te dou quinhentas pratas se você me disser o que quer dizer essa palavra.
— Ora, para começar você não tem quinhentas pratas. Estou conversando a sério e você me vem com molecagem. Acho que Deus é uma coisa, os padres outra. O ranço das sacristias me enoja. Tenho horror ao bafo clerical dos confessionários! O bem que a confissão pode nos fazer é o de uma catarse, um extravasamento, que a psicanálise também faz, e com mais sucesso. Estou mesmo com vontade de me especializar em psiquiatria.
— Só mesmo um doido te procuraria.
Mauro não pôde deixar de rir. Eduardo acrescentou:
— Você vai ter de se curar para depois curar os outros.
— É isso mesmo – concordou o outro, sério – Estou exatamente preocupado com o meu próprio caso. Já iniciei o que eu chamo de “a minha libertação”.
— E o que eu chamo de “a sua imbecilização”.
— Vista pela sua, que já é completa. O que eu chamo de libertação é a possibilidade de me afirmar integralmente, como homem. O homem é que interessa. Se Deus existe, posso vir a me entender com ele, mas há de ser de homem para homem.
Fernando Sabino

Comentário de Fernando Gurgel
Ateu = Sem Deus?????!!!!!
"Há meros devaneios tolos / A me torturar." – "Chão de Giz", Zé Ramalho
Os católicos, protestantes, cristãos de um modo geral, deveriam reavaliar o modo como rotulam aqueles que não compartilham com suas crenças.
Chamar de ateu, querendo dizer que a pessoa rotulada não tem "deus" - atheos -, creio que é um tiro no próprio pé.
Como podem afirmar que uma pessoa é "sem deus" se as próprias pessoas que cunharam este termo têm absoluta certeza da existência de um deus que criou tudo e todos?
Se alguém me chamar de apátrida posso provar, com facilidade, que tenho pátria.
Se alguém me chamar de aético posso provar, com mais facilidade ainda, que sempre fui ético em todas as atividades de minha vida.
Se alguém me chamar de amoral posso provar, com muito mais facilidade, que sempre mantive um comportamento acima de qualquer contestação.
Até se me rotularem de agnóstico - agnostos - posso mostrar-lhes meu conhecimento, inclusive de religião.
Então, não dá para crer em qualquer religião que exclua alguém dessa forma. Porque, sendo um ser humano que tem todas as virtudes, segundo os religiosos, de alguém que seja religioso e, em uma análise mais profunda, se eles acreditam que tudo, sem exceção, foi colocado no mundo por um ser superior, como pode alguém ser rotulado, por eles mesmo, de ateu, ou seja, de sem o ser que - repito, segundo os religiosos - criou tudo e todos.
Das duas uma: ou eles não acreditam no que pregam ou eles apenas querem um pretexto para excluir um ser humano de suas improváveis crenças. Na minha modesta opinião, se o deus dessas pessoas existisse, creio que os excluídos seriam eles.
Os muçulmanos que, ao conquistar parte da Europa, foram muito mais tolerantes com os que não professavam sua fé, chamavam de infiéis - e ainda chamam, apesar do radicalismo que praticam atualmente - os que não acreditavam em Alá. Menos mal, em termos de crença, pois não excluíam os que não acreditavam, simplesmente achavam que eles não tinham uma relação de fidelidade com aquele que acreditam ser o ser supremo.

Um comentário:

Fernando Gurgel disse...

Ateu = Sem Deus?????!!!!

"Há meros devaneios tolos / A me torturar" - Chão de Giz-Zé Ramalho

Os católicos, protestantes, cristãos de um modo geral, deveriam reavaliar o modo como rotulam aqueles que não compartilham com suas crenças.

Chamar de ateu, querendo dizer que a pessoa rotulada não tem "deus" - atheos -, creio que é um tiro no próprio pé.

Como podem afirmar que uma pessoa é "sem deus" se as próprias pessoas que cunharam este termo têm absoluta certeza da existência de um deus que criou tudo e todos?

Se alguém me chamar de apátrida posso provar, com facilidade, que tenho pátria.

Se alguém me chamar de aético posso provar, com mais facilidade ainda, que sempre fui ético em todas as atividades de minha vida.

Se alguém me chamar de amoral posso provar, com muito mais facilidade, que sempre mantive um comportamento acima de qualquer contestação.

Até se me rotularem de agnóstico - agnostos - posso mostrar-lhes meu conhecimento, inclusive de religião.

Então, não dá para crer em qualquer religião que exclua alguém dessa forma. Porque, sendo um ser humano que tem todas as virtudes, segundo os religiosos, de alguém que seja religioso e, em uma análise mais profunda, se eles acreditam que tudo, sem exceção, foi colocado no mundo por um ser superior, como pode alguém ser rotulado, por eles mesmo, de ateu, ou seja, de sem o ser que - repito, segundo os religiosos - criou tudo e todos.

Das duas uma: ou eles não acreditam no que pregam ou eles apenas querem um pretexto para excluir um ser humano de suas improváveis crenças. Na minha modesta opinião, se o deus dessas pessoas existisse, creio que os excluídos seriam eles.

Os muçulmanos que, ao conquistar parte da Europa, foram muito mais tolerantes com os que não professavam sua fé, chamavam de infiéis - e ainda chamam, apesar do radicalismo que praticam atualmente - os que não acreditavam em Alá. Menos mal, em termos de crença, pois não excluíam os que não acreditavam, simplesmente achavam que eles não tinham uma relação de fidelidade com aquele que acreditam ser o ser supremo.