13 setembro, 2021

Trajetos desejáveis

"Andar é tanto um modo de estar no mundo como de fazê-lo."
[uma passagem do livro "Wanderlust", de Rebecca Solnit, sobre a história do caminhar]

Você precisa de um caminho mais curto — para o ponto de ônibus, o escritório ou a lojinha da esquina — mas não existe uma trajetória planejada. Antes de você, outros desconhecidos já amaciaram a grama ou cortaram uma linha que atravessa a sebe. "Por que não?", você pensa.
Essa é a lógica dos "desire paths" [trajetos desejáveis], descritos por Robert Macfarlane como "trajetos e trilhas feitos ao logo do tempo pelos pés e desejos dos pedestres, especialmente aqueles que vão ao contrário do projeto ou planejamento". 
Macfarlane gosta de chamá-los de "vias do livre-arbítrio", mas a New Yorker oferece vários outros nomes: "cow paths" [trajetos da vaca], "pirate paths" [caminhos piratas], "social trails" [trilhas sociais], "chemins de l’âne" [caminhos dos asnos, em francês] e "Olifantenpad" [rastros de elefantes, em alemão]. J.M. Barrie os descreve como os “caminhos que se fazem por si mesmos".
O Reddit abriga threads sobre eles, com dezenas de milhares de seguidores, que se deliciam com os mais misteriosos ou ilógicos atalhos. Eles podem se formar em qualquer lugar: de cantos aparentemente esquecidos da cidade às sedes de governos nacionais, como aconteceu ao redor do Congresso Nacional do Brasil [foto]. Alguns são tão bem-estabelecidos que são visíveis no Google Maps.


Usar esse tipo de evidência para fazer o planejamento urbano não é inédito. Muitos campi universitários esperam para ver por onde seus professores e alunos andam antes de começar a aplicar o pavimento. Um deles é a Michigan State University, cujo campus parece uma agradável Tela Mágica quando visto de cima. Nos anos 1990, o arquiteto holandês Rem Koolhas criou um dos exemplos mais conhecidos quando deixou que as pegadas dos estudantes influenciasse seus planos para o Illinois Institute of Technology.

Extraído de: Atalhos: as trilhas ilícitas que desafiam os planejadores urbanos, por Ellie Bramley, no Guardian (outubro/2018). Tradução de Renato Pincelli, no Medium

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