03 julho, 2021

Como molhar o biscoito

2, 3, 4, 5, meia,7, 8!
Tá na hora de molhar o biscoito!

Gabriel o Pensador

Um dos principais problemas que os cientistas enfrentam ao compartilhar sua imagem do mundo com um público mais amplo é a lacuna de conhecimento. Não é preciso ser escritor para ler e entender um romance, ou saber pintar antes de poder apreciar um quadro, porque tanto a pintura quanto o romance refletem nossa experiência comum. No entanto, algum conhecimento do que trata a ciência é um pré-requisito tanto para a compreensão quanto para a apreciação, porque a ciência é amplamente baseada em conceitos cujos detalhes não são familiares à maioria das pessoas.
Esse detalhe começa com o comportamento dos átomos e moléculas. A noção de que tais coisas existem é bastante familiar hoje em dia, embora isso não tenha impedido um de meus companheiros de ouvir "Oh, você é um cientista! Não sei muito sobre ciência, mas sei que os átomos são feitos de moléculas!". Esta observação (em um jantar) me fez perceber o quão difícil pode ser para as pessoas, que não passam suas vidas profissionais lidando com matéria no nível atômico ou molecular, visualizarem como átomos e moléculas individuais parecem e se comportam em seu mundo miniaturizado.
Algumas das primeiras evidências sobre esse comportamento vieram de cientistas que estavam tentando entender as forças que sugam líquidos em materiais porosos. Fiquei, portanto, encantado quando fui convidado a ajudar a divulgar a ciência da imersão dos biscoitos, onde o chá ou o café são sugados pelos poros dos biscoitos, porque isso me deu a oportunidade de explicar alguns dos comportamentos de átomos e moléculas no contexto de um ambiente familiar, bem como uma oportunidade de mostrar como os cientistas operam quando são confrontados com um novo problema.
Fiquei menos satisfeito quando recebi o "Prêmio IgNobel" por meus esforços. Metade deles é concedida a cada ano para "ciência que não pode, ou não deve, ser reproduzida". A outra metade é concedida a projetos que "despertam o interesse do público pela ciência". Infelizmente, e para confusão de muitos jornalistas, seus organizadores na Universidade Harvard não se dignam a dizer qual é qual.
Ainda assim, foi um prazer receber o prêmio e dividir o palco no teatro Sanderson de Harvard com vários ganhadores do Prêmio Nobel genuínos, cujo senso de humor era maior do que o senso de dignidade. Foi um prazer maior, porém, receber cartas de alunos que ficaram entusiasmados com a divulgação do prêmio e do projeto. Um estudante americano até levou meu trabalho mais longe em seu projeto de ciências da escola e relatou com orgulho que recebeu um 'A' por seus esforços.
Este capítulo conta a história do projeto de imersão dos biscoitos e da ciência subjacente que é usada para resolver problemas que vão desde a extração de petróleo de reservatórios subterrâneos até a maneira como a água atinge as folhas das árvores. Como um bônus, mostra que os cientistas, às vezes, podem se divertir.

"Nature" Article on Biscuit Dunking Len Fisher, "Physics Takes the Biscuit". Nature 397, 469 (1999)

IgNobel ou Nobel: qual tem mais valor?

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