02 outubro, 2017

Eis o figo

Frederico I (1122-90), conhecido como "Barbarossa" por causa de sua barba vermelha, governou primeiramente como duque de Swabia, depois como rei dos territórios alemães, e finalmente como imperador do Sacro Império Romano-Germânico. No final da década de 1150, Frederico marchou com seu exército para o norte da Itália a fim de enquadrar algumas cidades recalcitrantes na Lombardia. Durante esta campanha, Frederico deixou sua esposa Beatrice em Milão. Enquanto o Barbarossa estava fora, os milaneses fizeram das suas. A repugnante população realizou um ato revoltante - pelo menos, no que se referia a Frederico. Eles expulsaram sua esposa da cidade, sentada ao contrário em uma mula, para que ela fosse apreciando enquanto a mula se afastava a humilhação pela cidade.
Isso pode ter sido uma boa piada para os habitantes locais, mas foi o imperador que deu a última risada.
No ano de 1162 Frederico voltou para subjugar a revolta. De acordo com o cronista Giambattista Gelli, o imperador, agora incensado, exortou os cidadãos sitiados a cederem, o que eles finalmente fizeram ... e recebeu-os com misericórdia, porém na seguinte condição: "Que toda pessoa que desejasse viver deveria, com os dentes, tirar um figo da genitália de uma mula". Ou seja, Barbarossa deu aos cabeças da rebelião a escolha entre ser enforcado (ou decapitado) ou salvar-se. Apresentando, como um sinal de resgate, o figo ao carrasco. A cereja do bolo, por assim dizer, era que o figo estava enfiado na mula da imperatriz, quero dizer, na mula propriamente dita. E o prisioneiro tinha que extraí-lo com os dentes. Ele, então, o entregaria ao verdugo, dizendo: "Ecco il fico" (traduzido como "Aqui está o figo"). Como se isso não fosse um castigo suficiente, ele tinha de fazer a operação de volta para que o figo estivesse pronto para a extração pelo próximo da fila.
Supostamente, a bizarra punição foi aplicada na praça principal de Milão, Para os milaneses que se sujeitaram ao rito, Frederico, permanecendo fiel à sua palavra, poupou suas vidas. Mas o mesmo não se pode dizer daqueles que se recusaram a participar e que, por isso, foram devidamente executados.
No entanto, durante décadas o incidente passou a ser usado para humilhar e insultar os milaneses. Você já deve ter visto o gesto. A forma precisa é fechar a mão com o polegar empurrado para fora, entre os dedos indicador e médio, e morder o polegar. O nome exato do gesto é conhecido como "fazer um figo". (*) Ainda era um insulto generalizado no tempo de Shakespeare, visto que o bardo inglês colocou-o no Ato I, Cena I de "Romeu e Julieta".
https://stronglang.wordpress.com/2016/11/01/biting-the-fig-the-finger-part-ii/




(*) Não confundir com "fazer figa", um sinal feito com os dedos da mão para supostamente afastar doenças, perigos e coisas ruins em geral. A figa feita com os dedos médio e indicador cruzados vem dos tempos da perseguição aos cristãos (séculos I ao IV). Este gesto (na imagem ao lado) era uma tentativa de se fazer uma cruz sem atrair a atenção dos perseguidores. (N. do E.)

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