Há aqueles que querem mudar o mundo; são os bons;
Há aqueles que querem mudar seu país; são os muitos bons;
Há aqueles que querem mudar sua cidade; são melhores ainda;
Porém, há aqueles que querem mudar a si mesmos: são os imprescindíveis.
(paródia de "Os que lutam", de Bertold Brecht)
Era um servidor público padrão e exemplar.
Muito eficiente, e sua inteligência acima da média de um barnabé permitira-lhe descobrir em pouco tempo que as embalagens não abrem onde está escrito "abra aqui", que a frase "vou estar passando para fulano" - principalmente quando ditas por telefonistas - queria dizer apenas "esquece" e que o chefe era o ser supremo em seu universo.
Como todo ser que se considera superior, tinha absoluta certeza dos desígnios emanados dos patrões e tinha fé inquebrantável nas hostes celestes. Somente uma coisa abalava seus conceitos sobre os céus, a terra e o universo: não saber, desde que nascera no interior, porque as cabras, cabritos, cabritas e assemelhados cagavam em bolinhas.
Isto não o impedia, por exemplo, de ficar entre chateado e alegre quando era preterido em alguma promoção.
Alegre pelo respeito que o chefe lhe tinha de comunicar pesaroso, mais uma vez nos últimos 30 anos: "Queria que você, pessoa de minha confiança, tivesse um pouco de compreensão, mas o cargo que reservei para você foi preenchido pelo Diretor de Pesquisas em Qualidade dos Parentes – Di-PQP".
Triste pela espera. "E o cargo abaixo, que está vago? Pode ser aquele mesmo", ainda tentava argumentar. E o "chefinho", com cara desolada, coitado, respondia: "Está reservado para uma estagiária que termina o curso no fim do ano. Não posso nem tocar nesse assunto na diretoria! Mas você merece coisa melhor!"
Como não há mal que sempre dure - e não volte – e bem que nunca acabe – e nunca mais volte -, ele um dia leu uma história cretina na rede sobre uns macacos africanos que eram capturados porque os nativos colocavam bananas dentro de uma cumbuca de boca pequena e, quando um macaco metia a mão e pegava uma banana, era capturado, morto e assado. Isto porque, com a banana na mão, não podia largar o cesto e fugir. E nunca aconteceu de algum largar a banana. E morriam.
O barnabé, único animal que aprende com o erro dos outros – nunca com os dele mesmo -, viu que estava na mesma situação do macaco. Resolveu fazer uma mudança radical em sua vida. Largou a banana que segurava há anos, procurou outra mais apetitosa, segurou-a com firmeza... E morreu.
i-Moral da história: enquanto houver banana...
Fernando Gurgel Filho
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