28 maio, 2020

Tristes "tigres"

Enquanto o Brasil discute uma forma de, finalmente, conseguir prover saneamento básico para toda a população, ressurge a memória de um capítulo não tão conhecido desse aspecto do país.
Durante o Brasil Império, o país era o maior território escravagista do Ocidente, com quase 5 milhões de africanos escravizados. Tal número representa cerca de 40% do total embarcado para as Américas.
Com a mão de obra escrava sendo utilizada em larga escala, foram os cativos apelidados de "tigres" os responsáveis pelo recolhimento e despejo da urina e fezes de muitos moradores das cidades durante cerca de 300 anos.
Nessa época, a maior parte das casas não contava com banheiros, água corrente ou algum outro tipo de instalação sanitária. Por isso, os moradores das antigas cidades faziam as necessidades em penicos e outros recipientes de metal ou porcelana.
Esses objetos ficavam sob as camas ou em armários até a manhã seguinte, quando eram esvaziados em grandes tonéis que comportavam todos os dejetos dos moradores da casa.
Parte do conteúdo, que continha ureia e amônia, vazava dos tonéis e deixava marcas brancas sobre a pele negra, parecidas com listras. Por essa reação química, as marcas se pareciam com as do animal — daí o apelido em tom pejorativo dos "tigres" ou "tigrados".
O cheiro dos tonéis, obviamente, não era agradável e fazia com que as pessoas não se aproximassem dos "tigres" enquanto os carregavam.


"A pele ficava listrada, com alternância de faixas pretas e outras descoloridas pela ação química dos dejetos. Por isso, esses escravos eram conhecidos como tigres", afirma o jornalista Laurentino Gomes, autor do livro "Escravidão", sobre o tema.

Ler mais:
Pereira, V. Quem eram os escravos 'tigres', marcantes na história do saneamento básico no Brasil, BBC News Brasil. Publicado em 30/11/2019. Acessado em 04/12/2019

Sem dizer água vai
Esta locução é antiga e sua explicação é conhecida. Ela é dos tempos em que não havia esgotos nas cidades. Os moradores lançavam normalmente a água usada pelas janelas, usando sempre o indispensável grito de alerta aos transeuntes: água vai!...
É compreensível a intolerância às pessoas que costumavam lançar seus dejetos à rua sem o costumeiro grito.
Com o sistema de esgotos, o velho costume desapareceu, mas a expressão sobreviveu com um significado bastante próximo do original.
Silva, PGCS. QUIMOEIROS, Preblog. Publicado em 06/03/2015

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