04 maio, 2020

Aldir Blanc, um dos nossos

Faleceu hoje no Hospital Universitário Pedro Ernesto, em Vila Isabel, Aldir Blanc Mendes (RJ, 2 de setembro de 1946 - RJ, 4 de maio de 2020), compositor e escritor brasileiro. Em 1966, ingressou na Faculdade de Medicina em 1966, após a formatura especializando-se em psiquiatria. Em 1973, abandonou a profissão médica e passou a dedicar-se à música e à literatura.
Notabilizou-se como letrista, a partir de suas parcerias com João Bosco, ao criar canções como "Agnus sei", "Bala com Bala", "Bijuterias", "Bodas de prata", "Caça à raposa", "Corsário", "De frente pro crime", "Dois pra lá, dois pra cá", "Incompatibilidade de gênios", "Kid Cavaquinho", "Latin lover", "Linha de passe", "Miss Suéter", "O mestre-sala dos mares", "O rancho da goiabada", "Parati", "Plataforma", "Ronco da cuíca", "Transversal do tempo", "Vida noturna" e muitos outros sucessos.
Uma de suas canções mais conhecidas, "O bêbado e a equilibrista", é também da parceria com o amigo João Bosco. Lançada em 1979 e  tendo sido gravada por Elis Regina, tornou-se uma espécie de "Hino da Anistia" (uma ode à liberdade nos tempos da ditadura militar). Em um de seus versos, ele "sonha com a volta do irmão do Henfil", uma referência ao cartunista Henrique de Sousa Filho, o Henfil, que tinha à época um irmão, o sociólogo Betinho, em exílio político no exterior.
Com outros parceiros (Guinga, Sílvio da Silva, Moacyr Luz, Paulo Emílio, Maurício Tapajós, Carlos Lyra, Ivan Lins, Cristóvão Bastos e outros), Aldir Blanc também compôs canções. Luís Nassif o definiu como "o poeta imortal que somou Luiz Peixoto, o portentoso poeta das quebradas, dos alijados, a Orestes Barbosa, o poeta do país que se urbanizava, que fazia poesias com elevadores, anúncios luminosos etc.".
Também publicou vários livros, entre os quais "Rua dos artistas e arredores" (Ed. Codecri, 1978), "Porta de tinturaria" (1981), "Brasil passado a sujo" (Ed. Geração, 1993), "Vila Isabel - Inventário de infância" (Ed. Relume-Dumará, 1996) e "Um cara bacana na 19.ª" (Ed. Record, 1996), com crônicas, contos e desenhos. E escreveu crônicas para O Pasquim" e os jornais "O Dia" (RJ), "O Estado de São Paulo" e "O Globo".
"Resposta ao tempo" (com Cristovão Bastos)
Uma obra da qual Aldir se orgulhava, mas que não parecia alimentar nele qualquer tipo de arrogância. Em vez disso, ele citava a lição do pai, Seu Alceu, "um cara que dizia: 'eu também sou doutor, quando chego no botequim com o jornal pra fazer fezinha, e o cara pergunta: - vai ser cerveja ou limão da casa hoje, doutor?' Esse diploma é o que me interessa".

Batidas na porta da frente
É o tempo
Eu bebo um pouquinho pra ter
Argumento
Mas fico sem jeito, calado
Ele ri
Ele zomba de quanto eu chorei
Porque sabe passar
E eu não sei


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