06 dezembro, 2019

A censura prévia no Pasquim

Nascido em junho de 1969, o jornal satírico O Pasquim esteve sob censura até 1975.
A primeira manifestação concreta da censura ocorreu em 1970, ao ser publicada no semanário uma reprodução de uma pintura de Pedro Américo ,"Independência ou Morte", realizada em 1888. O caricaturista e jornalista Jaguar, um dos criadores do Pasquim, usou uma reprodução do quadro que consagrou "a participação de Pedro Américo na montagem de um imaginário particularmente importante na construção simbólica do regime político, sobretudo em momentos de redefinição da identidade nacional". Jaguar transformou a imagem inicial e fez Dom Pedro I  dizer "Eu quero mocotó", referindo-se a uma canção de Erlon Chaves e Jorge BenJor, de 1970.
Após esse evento, o jornal contou com a presença física de censores dentro da redação, ao lado dos jornalistas, para vigiar e cortar as matérias antes mesmo da edição. A partir de 1974, a sede da censura mudou para Brasília, aonde o jornal tinha que mandar as matérias para a censura prévia, o que ocasionava inúmeros problemas técnicos e financeiros para a redação.
Alvos da censura, os desenhistas da redação do Pasquim rapidamente passaram a criticá-la, de
forma humorística, poética, irônica ou cínica. Uma charge, do Millôr Fernandes, representava a ação dos censores, os protagonistas de muitos desenhos e muitas críticas, pois a presença deles impactava de forma direta e concreta no trabalho cotidiano dos jornalistas. Aqui, sob o lápis irônico do Millôr, os responsáveis pela verificação dos conteúdos se empurram para poder ver as matérias, como se fosse um espetáculo. Uma inversão, portanto, opera-se na atitude dos censores, que manifestam um forte interesse pelas produções que teriam de criticar, denunciar e cortar.
Em 1977, Millôr Fernandes, ao comentar os anos de trabalho marcados pela censura nessa publicação, disse:
"Foram 300 semanas de um jornalismo aventuroso, com alguns momentos de extrema euforia e a maior parte de depressão e angústia diante da perseguição violenta e constante. Pois, dos seis anos quase completos que eu trabalhei no Pasquim, mais de cinco foram sob a bengala branca da censura mais cega que já existiu neste país – e eu sei bem do que falo."
Ao terminar a censura prévia a que estavam submetidos, os editores de O PASQUIM adotaram o recurso de inserir na publicação um selo com a seguinte mensagem:
ENQUANTO VOCÊ ENCONTRAR ESTE SELO
O PASQUIM CONTINUA SEM CENSURA PRÉVIA.
Era uma forma de avisar seus leitores de que estaria havendo recrudescimento da censura.
Webgrafia
Mélanie Toulhoat. Usos políticos do humor gráfico nas páginas do jornal Pasquim sob censura (1969-1975). FAFICH. II Encontro de Pesquisa em História da UFMG – II EPHIS, Jun 2013, Belo Horizonte, Brazil. 2013, Anais Eletrônicos do II Encontro de Pesquisa em História da UFMG – II EPHIS.
Censura Lendo o Material do Pasquim. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileiras. São Paulo: Itaú Cultural, 2019. Acesso em: 19 de Jun. 2019. Verbete da Enciclopédia. ISBN: 978-85-7979-060-7
Blog EM. https://blogdopg.blogspot.com/2019/04/eu-quero-mocoto.html

Ler também: O Pasquim e a MPB

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