No filme "007, Nunca mais outra vez", de 1983, James Bond é chamado por seu superior para um puxão de orelhas.
— Você tem hábitos desleixados e um modo de vida desregrado.
— O que devo entender por isso, Sir? — questiona o agente secreto.
— Estou falando dos muitos presentinhos a que se dá ao direito. Eles destroem seu corpo e sua mente. Você come carne vermelha demais, pão branco demais e bebe Dry Martini em demasia.
Bond deixa alguns segundos conspirarem na atmosfera. Só então engatilha o comentário, seco como um Martini:
— Prometo abrir mão do pão branco, Sir.
Há mais de 54 anos, em maio de 1964, morria Ian Fleming, o criador do personagem 007, retratado por ele em 12 romances e duas coletâneas de contos. James Bond foi escrito à sua imagem e semelhança. Tal como OO7, Fleming era britânico, boa pinta, galante, mulherengo, irônico e até trabalhara como agente secreto da M1-5 — a CIA inglesa.
Da mesma maneira que o espião da literatura pop, o escritor também tinha um fraco por destilados. Mas, ao contrário de 007, o seu preferido não era o Dry Martini — ou suas derivações. Fleming, assim como a Rainha-Mãe, apreciava o gin puro. Sem uma gota sequer do vermute Nolly Prat.
Em Goldeneye, a casa na Jamaica onde escreveu toda a sua obra, chegava a enxugar uma garrafa ao dia. Entremeava um gole e outro com 70 cigarros, diante da máquina de escrever Imperial. Seu médico recomendou trocar o gin pelo bourbon e pegar mais leve. Todavia, a saúde de Fleming já estava em frangalhos. O Caranguejo de Ferro, sua metáfora para a morte, apanhou-o aos 56 anos. Infarto do miocárdio.
Extraído de: O espião que tomava todas, de Walterson Sardenberg Sº. Portal Gosto.
(publicado em 15/08/2014; acessado em 30/04/2018)
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