26 maio, 2017

Rimas difíceis

Os nomes dos políticos, às vezes, são difíceis de rimar. Não me lembro se foi Juca Chaves que disse que era difícil encontrar uma rima para Lacerda.

Um repentista confessava que a classe tinha horror à palavra "cinza". Seu uso seria uma espécie de golpe baixo num desafio. Alguém conhece uma rima para ela?
– Pedir pra rimar cinza / é coisa de ranzinza!

Se for para ter rima aconselho não terminar verso com um dos seguintes vocábulos: probóscide, elfo, sílfide, cúmplice, nenúfar, acróstico, odre (ó), sânscrito, totem, Vênus, virgem, lágrima, êxito, cabocla, ânus, néctar, lápis, tênue, sorgo, paralelepípedo, árabe e derivados (como moçárabe). Para paralelepípedo, serve insípido? Mas, para as demais palavras, está difícil.

Rima para lâmpada – Disseram uma vez ao jornalista português Duarte de Sá que não havia rima para a palavra lâmpada. Ele refletiu um instante e escreveu: – Consta que certo vigário / mandou comprar uma lâmpada/ pra alumiar uma estampa da / Virgem Santa do Rosário! (Colaboração do poeta José Marins – Curitiba) [http://www.caestamosnos.org/rev_trovia/Out_2006.htm]

Acho lindo quando Caetano, em "Rapte-me, Camaleoa", diz: rapte-me, capte-me, adapte-me, it´s up to me (acabaram-se as rimas em português e ele foi buscar mais uma em outro idioma). Em "Meu bem, meu mal", onde ele rima "meu guru" com "porto seguro" e "mãe" com "champanhe", igualmente.

No português do Brasil, as rimas para "mãe" em geral são imperfeitas. Além de "champanhe", temos "acompanhe", "ganhe", "txucarramãe"... Ei, "txucarramãe", não!

Em Portugal, "mãe" não é problema. Leiam estes versos de Fernando Pessoa:
– Tão jovem! que jovem era! / (Agora que idade tem?) / Filho único, a mãe lhe dera / Um nome e o mantivera: / “O menino de sua mãe.”
É que no falar lisboeta "tem" soa normalmente “tãe”. (Aderaldo Luciano)

A rima é uma coincidência de sons, não de letras. Por exemplo, há rima soante perfeita nestes versos de Alphonsus de Guimaraens:
 – Céu puro que o sol trouxe / Claro de norte a sul, / O teu olhar é doce, / Negro assim, qual se fosse / Inteiramente azul.

Ver também: A Rua das Rimas, de Guilherme de Almeida.

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