06 fevereiro, 2014

Morenice brasileira

por Nelson José Cunha, de João Monlevade - MG
Nasceram morenos, rechonchudos e com leite a escorrer-lhes das faces sadias. Foram esperados com paciência, anos a fio, para finalmente se apresentarem com essa cara de brasileiros.
Alguns, mais pessimistas, diziam que não iam vingar porque aqui não é o Ceará. Não temos o clima, faz frio e eles não resistiriam.
Insisti e fui premiado com um lote deles, todos rajados e durinhos.
Minha vingança agora é apresentar aos incrédulos essa preciosidade que tem a cor do Brasil e das vestes franciscanas.
Os vizinhos vieram, em fila, vê-los. Acho que duvidaram da notícia que correu rua abaixo: nasceram uns morenos na casa 1014.
Estão agora no ninho que lhes preparei. É assim que se parecem, aninhados depois da arrumação meticulosa.
Trata-se da minha primeira safra de sapotis, expostos à visitação em lugar nobre da cozinha. Não estão maduros ainda, fazem-se esperar como uma noiva antes da apresentação. Precisam agora de calor e carinho para retribuírem com a doçura e o perfume da fruta madura.
Só me resta fotografá-los, dividí-los em punhados menores e deixar que a vizinhança partilhe do banquete.


Manilkara zapota, gratus in hanc domum acciperis! (Sapoti, seja bem vindo a esta casa!)

Nelson,
Ao lado do melão, mamão e peras, os sapotis costumam fazer parte do nosso café matinal. Para asco dos filhos, que não entendem a inclusão dos sapotis no cardápio dos pais.
Parodiando James Carville: É o sabor, estúpidos!
"Se sapoti fosse bom, estava no café da manhã dos hotéis", argumentam.
"Ora, sapoti custa caro, uns 10 reais o quilo", justifico sob o olhar de aprovação da mulher. "Além disso, exige um rígido controle diário do lote para identificar quais deles já estão no ponto".
Estar no ponto é o estado da arte da fruta. Aquilo que só os morcegos manjam.
PGCS

Paulo,
Quando vou ao Ceará, procuro por eles e nem sempre os encontro comestíveis. Acho que não há plantação comercial, daí seu alto preço e raridade. Deve ser fruta de quintal e os que escapam da gula dos moradores, fogem mirrados para o mercado.
Mais fácil achar seu irmão de côr, o kiwi. Fruta da Oceania e menos saborosa. É o que diz meu paladar e o seu. A que se deve o desprezo por essa fruta tão saborosa. Ela tem todos as qualidades de uma boa fruta: pouca casca, pequena semente, muita polpa, resistente ao transporte, árvore produtiva e frondosa, invulnerável à mosca da fruta por sua secreção leitosa, doçura e textura exatas.
Assim como a banana, ele tem o "design" inteligente.
Plantem sapoti, plantem!
Nelson

2 comentários:

Nelson Cunha disse...

Paulo,
Quando vou ao Ceará, procuro por eles e nem sempre os encontro comestíveis. Acho que não há plantação comercial, daí seu alto preço e raridade.Deve ser fruta de quintal e os que escapam da gula dos moradores, fogem mirrados para o mercado.
Mais fácil achar seu irmão de côr, o Kiwi. Fruta da Oceania e menos saboroso.É que diz meu paladar e o seu. A que se deve este desprezo por essa fruta tão saborosa. Ela tem todos as qualidades de uma boa fruta: pouca casca, pequena semente, muita polpa, resistente ao transporte, árvore produtiva e frondosa, invulnerável à mosca da fruta por sua secreção leitosa, doçura e textura exatas.
Assim como a banana, ela tem o " design" inteligente.
Plantem sapoti, plantem!

Paulo Gurgel disse...

"Menina, você tem a voz doce e a cor do sapoti".
(Getúlio Vargas, dirigindo-se a Ângela Maria)