Envelhecer, aposentar, poder passear no calçadão em frente à praia, ao fim da tarde. Correr no tal calçadão vendo o mar, o doce balanço do mar, que passa ondulando ao seu lado.
Este é o lado bom de envelhecer com saúde. O outro lado... Bem, uma das facetas do outro lado é não ter o bom senso de saber o quanto já envinagrou. E que tem pouquíssimas uvas que ainda querem a sombra de sua parreira.
Meu amigo calhorda gosta muito do lado bom, mas esqueceu todos os outros lados. Depois de um dia de sol maravilhoso, final do dia, fazia sua corrida diária quando a gatinha passou, andando devagar e, imantada, atraindo todos os olhares do calçadão.
Parou de correr e sentou-se no banco logo à frente, esperando o desfile triunfal que teria que passar por ali. Verdadeiro carro alegórico de uma pessoa só.
Quase passou. Mas parou de repente, olhou para ele, abriu um sorriso do tamanho do universo e perguntou, preocupada:
- O senhor tá bem, tio?
Se tivesse dado um pontapé na canela não teria doído tanto.
- Estou ótimo, filha. Sentei pra tomar um fôlego. Obrigado.
E caiu na gargalhada.
A gatinha, sem entender o porquê do riso do "veím", ainda falou, se despedindo e ressaltando o ridículo da situação:
- O senhor sentou tão rápido.
E a noite pareceu ter caído de repente naquele olhar que ainda brilhava.
Fernando Gurgel Filho
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