30 novembro, 2018

O Conde Lucanor - 3

O Conde é uma obra narrativa da literatura espanhola medieval, escrita entre 1330 e 1335 por Don Juan Manuel, príncipe de Villena e neto do rei Fernando III de Castela. O seu título castelhano completo é "Libro de los ejemplos del conde Lucanor y de Patronio".
O livro consiste de cinco partes, a mais conhecido das quais é uma série de 51 exempla (plural de exemplum) ou histórias moralizantes tiradas de várias fontes, como Esopo e outros contos clássicos e tradicionais.
A finalidade didático-moral é a marca do livro. O conde, começa a conversa dando ciência a seu conselheiro Patrônio de um problema ("Um homem me fez uma proposta ...") e solicitando um parecer para resolvê-lo. Patrônio sempre responde com grande humildade, garantindo não ser necessário dar conselhos a uma pessoa tão ilustre como o conde, mas oferecendo-se para contar uma história da qual se pode tirar uma lição para resolver o problema.
Cada capítulo termina mais ou menos da mesma maneira, com pequenas variações, com um dístico que condensa a moral da história.
Conto VI - O que aconteceu com a andorinha e os outros pássaros depois da semeadura do linho
Don Juan Manuel
Trad.: PGCS
Novamente, quando o conde Lucanor estava conversando com Patrônio, seu conselheiro, ele disse:
— Patrônio, me asseguram que alguns nobres, que são meus vizinhos e muito mais fortes do que eu, estão se reunindo contra mim e que, com artes más, procuram uma maneira de me prejudicar. Eu não creio nem temo, mas, como confio em você, eu quero lhe pedir que me aconselhe se devo estar preparado contra eles.
— Senhor Conde Lucanor, disse Patrônio, para que você possa fazer o que neste caso parece mais conveniente, eu gostaria muito de que você soubesse o que aconteceu com a andorinha e os outros pássaros.
O conde perguntou-lhe o que havia acontecido.
"Sr. Conde, disse Patrônio, a andorinha viu que um homem semeava linho e, guiado pelo bom senso, pensou que, quando o o linho crescesse, os homens poderiam fazer com ele redes e outras armadilhas para caçar pássaros. Imediatamente, ela foi até estes, reuniu-os e disse-lhes que os homens tinham plantado linho e que, se este crescesse, deveriam ter ciência dos perigos e danos que isso lhes traria. Por isso, aconselhava-os a ir aos campos de linho e arrancar as sementes antes de que nascessem. No entanto, as aves não deram importância ao aviso e não foram recolher as sementes. A andorinha insistiu muito para que seguissem o tal conselho, até concluir que os pássaros não percebiam o perigo nem tinham qualquer preocupação a respeito. Enquanto isso, o linho continuava a crescer, e os pássaros não conseguiam mais retirá-lo com seus bicos e patas. Arrependeram-se, finalmente, por não ter sanado o problema no devido tempo, apesar de suas lamentações serem já inúteis para evitar o mal.
"Vendo a andorinha, que as outras aves não queriam se prevenir do perigo que as ameaçava, acrescentou Patrônio, ela falou com os homens, pôs-se sob a proteção deles e ganhou a paz e a segurança para si e para a sua espécie. E, desde então, vivem as andorinhas com segurança entre os homens, que não as perseguem. Enquanto as outras aves, que não souberam prevenir-se do perigo, são perseguidas e caçadas todos os dias com redes e armadilhas.
"E você, Sr. Conde, se quiser evitar o dano que o ameaça, tome precauções e cuide-se antes que seja tarde demais.Não é prudente aquele que vê as coisas quando já aconteceram ou estão acontecendo; mas o é aquele que, a um simples indício, descobre o perigo que corre e adota as soluções para evitá-lo.
O conde ficou muito satisfeito, agiu de acordo com o conselho e tudo correu muito bem.
Como Don Juan viu que era uma boa história, mandou colocá-la neste livro e fez uns versos que dizem assim:
O mal ao começar se deve extirpar
Porque, uma vez crescido, quem o conseguirá?

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