A "Farsa da Boa Preguiça" narra a história de Joaquim Simão, poeta de cordel, pobre e "preguiçoso", que só pensa em dormir. Joaquim é casado com Nevinha, mulher religiosa e dedicada ao marido e aos filhos. O casal mais rico da cidade, Aderaldo Catacão e Clarabela, possui um relacionamento aberto. Aderaldo é apaixonado por Nevinha e Clarabela quer conquistar Joaquim Simão. Três demônios fazem de tudo para que o pobre casal se renda à tentação e caia no pecado, enquanto dois santos tentam intervir. Jesus observa e avalia tudo. A partir daí, situações inusitadas e muito divertidas fazem deste texto uma das peças mais divertidas do teatro brasileiro.
Para o autor Ariano Suassuna, a "Farsa da Boa Preguiça" tem dois temas centrais. Nela, Ariano não defende indiscriminadamente a preguiça — coisa que, aliás, não poderia fazer, pois ela é um dos "sete vícios capitais" do Catecismo.
No Teatro antigo, havia uma convenção, segundo a qual, no fim da história, o autor podia dar sua opinião sobre o que acontecera no palco. Era a chamada "licença" ou "moralidade". Pois bem. Na "licença" da “Farsa", numa das estrofes finais do terceiro ato, diz um dos personagens:
"Há uma Preguiça com asas,
outra com chifres e rabo.
Há uma preguiça de Deus
e outra preguiça do Diabo."
http://www.cultura.rj.gov.br/evento/a-farsa-da-boa-preguica
2Assim como o escritor, a psicóloga Mônica Quinan faz a distinção entre a má preguiça e o descanso ou ócio. "Desconexão laboral", é esse o modo como Mônica chama a famosa Boa Preguiça, o processo de repouso necessário à manutenção de uma qualidade de vida adequada.
"O ócio criativo é absolutamente salutar, tanto física, como mentalmente. Desempenha um papel libertador, uma vez que o tempo livre é necessário para a produção de ideias, que são a matéria dos sonhos, e são os sonhos que dão sentido e alegria à labuta diária", ressaltou a psicoterapeuta.
A psicóloga cita o célebre dissidente da corrente freudiana, Carl Jung, autor da frase “Quem olha pra fora sonha, e quem olha pra dentro acorda”. Sendo matéria prima para os sonhos, a Boa Preguiça que Joaquim Simão cultiva em sua rede de dormir não poderia deixar de ser louvada pelos amantes da arte. Fechar os olhos para o mundo exterior, não é estar alheio à vida. Tantas vezes, é estar ainda mais afinado com ela, conhecendo-se as estradas de dentro.
https://webnoticias.fic.ufg.br/n/70239-a-arte-sob-as-asas-da-boa-preguica
3Mas voltemos ao oblomovismo. O nome deriva de Oblómov, o incrível romance satírico de Ivan Gontcharóv (1812-1891), publicado em 1859, agora publicado no Brasil (CosacNaify, 736 páginas, R$119) em tradução de Rubens Figueiredo. O herói epônimo do romance é um senhor de terras preguiçoso, que gasta seus dias na cama ou no sofá, sonhando em reformar sua propriedade e recebendo visitas de amigos. Personagens, ações e diálogos ocorrem em torno dele, como se ele fosse o centro de um universo. Seu antagonista é seu amigo, o "alemão" Andrei Stoltz, um empreendedor entusiasmado com as conquistas da indústria. Oblómov não se emociona com o capitalismo que se instala na velha Rússia. Prefere ficar parado. Quando Stoltz o convence a sair para uma festa, ele conhece uma amiga de Stoltz, Olga Ilinskaya. Apaixona-se por ela, pede-a em casamento, mas nada acontece. Em seu pendor pela inação, Oblómov se muda para o subúrbio de São Petersburgo, onde amarga a decadência sem reclamar. Na verdade, consegue ainda se apaixonar pela viúva Agáfa Matviéievna Pchenítsina. O casal tem um filho. Enquanto seu espírito se apaga, Olga e Stoltz se unem e adotam o filho de Oblómov. Para nosso herói, a vida continua igual a ela própria. Assim Goncharóv descreve Oblómov: "Os pensamentos voavam como pássaros pelo rosto, chegavam até os olhos, paravam nos lábios semicerrados, escondiam-se no franzir das sobrancelhas. Depois desapareciam de vez, e então todo o rosto coruscava com a luz da despreocupação".
http://revistaepoca.globo.com/cultura/luis-antonio-giron/noticia/2012/11/preguica-de-alto-desempenho.html
"O melhor da preguiça é dar asas à imaginação."
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