02 agosto, 2017

Churchill e a Bomba

Winston Churchill era muito interessado em ciência e, muitas vezes, escrevia para leigos sobre assuntos científicos. Em 1933, ele presidiu uma conferência sobre as descobertas atômicas no Laboratório Cavendish, em Cambridge. Nesta ocasião, seu amigo e cientista Frederick Lindemann, disse a seu respeito:
"Todas as qualidades ... do cientista se manifestam nele. A prontidão para enfrentar as realidades, embora contradigam uma hipótese favorita, o reconhecimento de que as teorias são feitas para os fatos (não os fatos para atender às teorias), o interesse pelos fenômenos e o desejo de explorá-los, e acima de tudo a convicção subjacente de que o mundo não é apenas um mistério de acontecimentos, mas que deve haver alguma unidade maior."
Graham Farmelo, "Churchill's Bomb"

Talvez nenhum desenvolvimento científico tenha moldado o curso da história moderna tanto quanto o aproveitamento da energia nuclear. No entanto, o século XX poderia ter-se revelado de forma diferente se a maior influência sobre esta tecnologia tivesse sido exercida pela Grã-Bretanha, cujos cientistas estavam na vanguarda da investigação sobre armas nucleares no início da Segunda Guerra Mundial. Como o biógrafo premiado e escritor de ciência Graham Farmelo descreve em Churchill's Bomb que os britânicos se propuseram a investigar a possibilidade de construir armas nucleares antes de seus colegas americanos. Mas, quando os cientistas britânicos descobriram pela primeira vez uma maneira de construir uma bomba atômica, o primeiro-ministro Winston Churchill não tirou o partido da liderança do seu país e demorou a perceber as implicações estratégicas da bomba. Isso era estranho - ele se orgulhava de reconhecer o potencial militar da nova ciência e, nas décadas de 1920 e 1930, havia repetidamente aventado que as armas nucleares provavelmente seriam desenvolvidas em breve. No desenvolvimento da bomba, entretanto, marginalizou alguns dos cientistas mais brilhantes de seu país, escolhendo confiar principalmente no conselho de seu amigo Frederick Lindemann, um físico de Oxford com o discernimento por vezes incorrigível. Churchill também não conseguiu aproveitar a oferta de Franklin Roosevelt para trabalhar em conjunto no projeto da bomba atômica e, em última instância, cedeu a iniciativa da Grã-Bretanha aos americanos, cujo desenvolvimento bem-sucedido desse projeto colocou os Estados Unidos em uma posição de vantagem no alvorecer da era nuclear. Depois da guerra, o presidente Truman e seu governo recusaram-se a reconhecer um acordo secreto de cooperação forjado por Churchill e Roosevelt e deixaram a Grã-Bretanha fazer seu próprio caminho de desenvolvimento nuclear. Aterrorizado com a possibilidade de uma guerra termonuclear, Churchill emergiu como pioneiro da distensão nos primeiros estágios da Guerra Fria.

A BOMBA
Só músculos, a bomba é capaz de não deixar uma xicrinha sobre pires nesta loja de louças chamada Terra. (Paulo Gurgel)

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