02 dezembro, 2018

Morreu Maria Preá

A expressão acima, muito usada em boa parte da região nordestina, mas pouco conhecida no restante do país, especialmente nas grandes cidades, é empregada quando qualquer situação chega a seu ponto final, irreversível, definitivo e que, por isso, não tem mais jeito e não pode ser modificada.
= Vamos esquecer o assunto.
(Grato ao jornalista e escritor JB Serra e Gurgel por ter feito o contrário, isto é, me lembrado o assunto.)
Se o assunto é decidido ... quando não há mais questão ... se não cabe discussão ... e o martelo foi batido ... se não restar mais moído ... e acabou-se o bafafá ... se o que fazer já não há ... e recorrer não se pode ... emende o fio do bigode ... morreu Maria Preá ...

De onde surgiu esta expressão, apud Larissa Brandão:
Conta-se, no caso, que o vigário de determinado lugarejo interiorano foi apanhado em flagrante por seu sacristão quando transava com Maria Preá, uma paroquiana com atrativos físicos que atraíam a atenção de qualquer filho de Deus que tivesse os hormônios certos funcionando nas horas certas. Pouco importa saber como esse romance incomum começou, e mais ainda, de que forma chegou ao rola-rola, e ainda por cima na casa paroquial. O fato é que desse dia em diante o sacristão passou a fazer chantagem com o vigário, conseguindo dele tudo o que desejava. Bastava dizer em sussurro "Olha a Maria Preá!", para que o religioso se rendesse às suas exigências, embora o fizesse muito a contragosto. Mas fazer o quê numa situação dessas? Como explicar aquela aventura amorosa aos paroquianos?
Até que certo dia o vigário voltou mais cedo de uma tarefa que tinha ido realizar em sua missão pastoral. A porta da casa onde morava estava aberta, como de costume, e por isso ele entrou sem fazer alarde, como também era seu hábito. Ao passar pela porta entreaberta de um dos quartos, rumo à cozinha, e surpreender, num relance de olhar, o sacristão com o tronco curvado para frente, servindo passivamente de mulher para um garotão das redondezas, sua surpresa foi tamanha que ele não conseguiu dizer uma única palavra: só ficou ali parado, de boca aberta, olhando a cena patética. Mas logo foi percebido pelo sacristão, que "desarrolhando-se" do seu jovem parceiro tratou de ajeitar a roupa, aproximar-se do padre que ainda o observava de queixo caído, e murmurar em voz aflita: "Seu Vigário, não conte nada pra ninguém. O senhor não viu nada, está bem? E olhe: de hoje em diante, morreu a Maria Preá!".
E foi por causa disso que a frase nasceu. Não faz muito tempo, Itanildo Medeiros, natural de Angicos, no Rio Grande do Norte, compositor, empresário de bandas de forró e secretário de Cultura em sua cidade natal, pesquisou essa mesma história, descobriu sua origem, e como o que nela se diz ter acontecido integra o riquíssimo acervo folclórico nordestino, ele não se contentou em divulgá-la, apenas, mas valeu-se de seus dotes poéticos para escrever um poema de literatura de cordel sobre o tema, cujos últimos versos estão transcritos aí abaixo:
Assistindo aquela cena / mas lembrando do passado, / o padre ficou com pena / e também aliviado. / Mas, mesmo com a vergonha / daquela cena medonha, / o padre gritou de lá: / Sacristão, se oriente / pois, pra nós, daqui pra frente, / morreu Maria Preá.
Fonte: https://groups.google.com/forum/#!topic/projetobios/FzYx79FaY5w

O poema de Itanildo Medeiros na íntegra, dito por outro destaque da literatura de cordel, o Braulio Bessa:


Verbete futuro para o Dicionário Brasileiro de Frases (DBF): Agora é tarde, Inês é Morta

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