O Natal de 1937 teve uma história curiosa. O clima teve uma participação crucial na história. O Reino Unido amanheceu sob forte neblina e muitos dos jogos programados foram suspensos por falta de condições de visibilidade. Mas um jogo foi mantido: o Chelsea enfrentou o Charlton Athletic, no estádio Stamford Bridge. No primeiro tempo, os times empatavam por 1 a 1.
A visibilidade era ruim, mas o jogo continuou mesmo assim. Apesar de o jogo ter se desenrolado normalmente no primeiro tempo, no segundo a neblina ficou mais forte e não se via nada em campo. O goleiro do Charlton, Sam Bartram, perdia de vista seus companheiros quando seu time atacava. Ele não conseguia ver nem sequer os defensores. Os jogadores reapareciam do meio da neblina quando se aproximavam da área defendida por Bartram. De onde estava, o goleiro não via quase nada além da sua própria área e, claro, não via também as arquibancadas.
Naquela solidão da grande área, Bartram não via nada acontecer por um tempo que ele sentiu ser grande. Grande até demais. Claro, isso era um bom sinal, porque o seu time não estava sendo atacado. "Os rapazes devem estar dando uma sova nesses caras", pensou o goleiro, segundo escreveu em sua biografia.
"Cada vez eu via menos e menos os jogadores. Tinha certeza que dominávamos a partida, mas me parece óbvio que não havíamos feito um gol, porque meus companheiros teriam voltado para as suas posições de defesa e eu teria visto alguns deles. Também não escutei os gritos de comemoração", descreveu Bartram.
O goleiro precisava decidir o que fazer, depois de tanto tempo sem ver absolutamente nada acontecer, nem ninguém se aproximar. Ele preferiu não arriscar sair do gol. Achava que poderia vir um contra-ataque rápido que o surpreendesse. Preferiu ficar embaixo das traves, imaginando que o seu time estava atacando, e caso aparecesse um atacante surgido do meio da neblina, ainda teria tempo de reagir e tentar impedir o gol.
"Eu ficava me aquecendo trotando no lugar e por umas duas vezes eu cheguei a ficar na risca da grande área para ver se conseguiria ver alguma coisa que estava acontecendo depois da metade do campo", contou o goleiro na biografia. Mas ele não teve sucesso. Continuava sem ver nada. E sem nada acontecer.
Depois de alguns minutos, finalmente apareceu alguém no campo. Mas não era o que o goleiro esperava. Caminhando, um policial surgiu na sua vista. "O que está fazendo aqui?”, perguntou o oficial, surpreso ao ver o jogador ali. "A partida foi interrompida faz 15 minutos! O estádio está completamente vazio".
Sem entender o que aconteceu, Bartram desceu para os vestiários. Encontrou seus companheiros já de banho tomado e trocados, se matando de rir do goleiro. Contaram a ele que não o avisaram nada sobre a suspensão do jogo para ver quanto tempo ele ficaria esperando na neblina. Assim se deu aquele jogo, que acabou mesmo 1 a 1.
A neblina que deixou o goleiro Sam Bartram sozinho em campo em um jogo no Natal de 1937, por Felipe Lobo. Em: Tivela
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