03 novembro, 2012

Einstein e a fé

por Nelson José Cunha, de João Monlevade - MG
Einstein acreditava em Deus?
Há uma polêmica envolvendo a religiosidade de Einstein. Os ateus querem o genial cientista no time dos sem fé, enquanto os religiosos socorrem-se dessa frase do pai da relatividade para abrigá-lo entre os seus:
“A ciência sem a religião é manca; a religião sem a ciência é cega”.
Personalidades de inteligência prodigiosa são sempre convocados para responder a essa velha questão: Deus existe?
O grande físico judeu desviava-se dessa pergunta embaraçosa com respostas ambíguas típicas de quem nasceu no Riacho da Cruz em Minas. Quando pressionados, os mineiros respondem com uma frase que deve ter ficado pronta na boca de algum inconfidente ao ser indagado sobre o apreço dos moradores de Vila Rica a D. Maria I de Portugal:
“Eles dizem que a querem muito” e a obrigatória ressalva: “Quase todos”.
Abro um parêntesis para especular sobre a origem desse traço de todos os mineiros vivos - os mortos violaram a regra da ambiguidade e não deixaram descendentes. Quem vive isolado entre montanhas, vê em todo visitante um interesse a ser desvendado. Ninguém sai por aí escalando morros e atravessando alagadiços sem uma razão bem estabelecida. Do lado de quem é visitado, o isolamento não lhe permite ter qualquer informação sobre o intruso. A maneira de proteger-se é extrair do próprio visitante as armas para a refrega. Daí vem a conversa meândrica em que a parte mineira tenta descobrir o que a visita encobre que possa ser ameaçador. Entre os brasileiros, o mineiro é o anfíbio.
Feita a divagação antropológica, voltemos ao tema:
Confessar-se ateu na década de cinquenta não implicava a execução sumária do infiel como acontecia na Idade Média, mas deixava o atrevido muito mal-visto. Einstein respondia com a técnica que hoje chamamos de "politicamente correta": A resposta que não responde e que tampouco desaponta a parte inquiridora. Essas respostas têm sabor e volume como um prato de pastéis de vento.
O cientista de cabelos para o alto e língua para fora tinha algo mais importante a fazer. Sabia que a resposta a essa pergunta já nasce respondida no interior de cada um.
A fé no sobrenatural – aqui a opinião é minha - é uma função cerebral à margem das funções lógicas normais. Quem nasce com ela - com a fé genuína - encontra sentido na vida e navega suavemente para a glória prometida. Essa é a epopeia dos crentes. Do outro lado, estão os cartesianos, insaciáveis questionadores, atormentados pelo vazio existencial de uma vida sem esperanças. Alguns desses até podem fingir religiosidade para melhorar sua inserção social ou se for um canalha, para explorar a fé alheia criando seitas para seu prestígio e enriquecimento. Outros professam o ateísmo envergonhado, como o cientista de quem falamos.
Ao me deparar com essa carta de Einstein, vi que os religiosos não podem mais apelar para a genialidade do cientista como endosso da física aos emaranhados da fé.
A carta escrita em alemão foi enviada para seu amigo Erik Gutkind , um filósofo judeu. Vejam que é datada de janeiro de 1954, um ano antes da morte do cientista aos 74 anos. Segue-se um trecho onde se vê que Einstein era realmente um ateu elegante. Não queria ofender a fé de ninguém como faz hoje o ateísmo militante. Ele disse muitas vezes que o cientista tem obrigação de ser humilde e reconhecer que entende muito pouco das charadas da natureza. Grandeza mesmo, só os mistérios que nos cercam, eles têm o direito de serem arrogantes porque são infinitos.
Tradução do trecho da carta:
"A palavra Deus é, para mim, nada mais do que a expressão e o produto das fraquezas humanas, e a Bíblia uma coleção de lendas honradas, ainda que primitivas, e que de qualquer maneira são bastante infantis. Nenhuma interpretação, por mais sutil que seja, é capaz de (para mim) mudar isso. Essas interpretações cheias de sutilezas são muito variadas, de acordo com sua natureza, e não têm quase nada a ver com o texto original. Para mim, a religião judaica, assim como todas as outras religiões, é uma encarnação das mais infantis superstições. E o povo judeu, ao qual fico muito feliz de pertencer e com cuja mentalidade tenho uma profunda afinidade, não tem nenhuma qualidade diferente, para mim, do que qualquer outro povo. Até onde vai a minha experiência, eles não são melhores do que qualquer outro grupo humano, embora estejam protegidos dos piores cânceres por sua falta de poder. Fora isso, não consigo ver nada de 'escolhido' neles." Albert Einstein, Wikiquote

4 comentários:

Colupu disse...

Não ficou claro se o autor acredita ou não.

Colupu disse...

O texto refere-se ao Einstein e sua mineirice. O autor condena esse cacoete mineiro que serve ao anedotário ,mas não é honesto escamotear convicções.
Como diz Nana Caymmi na sua canção:

" Se queres saber... Olha bem nos meus olhos... Eles dizem que eu não digo... O olhar de quem ama diz o que o coração não quer.

A minha opinião sobre o tema é:

Se Deus nos fez à sua imagem e semelhança( Genesis 1 ) , ELE tem muito a melhorar!

Colupu disse...

Paulo,
Esse comentário é de Conchita, mexendo comigo.
Nelson

Colupu disse...

Paulo,
Estamos viajando e uso o computador de Conchita, daí essa confusão de remetentes. Esqueci do meu ID da google e estou usando o da Conchita.
Vamos lá:
A primeira mensagem é dela e as demais são minhas.
Abração,
Nelson.