Paulo Gurgel
Nos últimos tempos, nossos políticos e tecnocratas têm andado às voltas com a tarefa de criar novas palavras para a língua falada no Brasil. Que, dizem uns, se tratar de português, e outros, de brasileiro mesmo. Não entrando no mérito de tal discussão, já que não tenho uma opinião formada sobre o assunto, uma coisa, porém, eu afirmo. A língua que Arraes chorou no exílio está sendo, como nunca, invadida por neologismos.Resta ver com qual finalidade. Muitas vezes, os neologismos são criados para preencher necessidades da comunicação, concordo. E o idioma precisa deles para o seu rejuvenescimento, assim como se descarta de outras vocábulos que vão virar arcaísmos. Feito uma árvore que todo dia estreia novas folhas, desfazendo-se de outras já sem viço. E, queiram ou não, a mais corriqueira das palavras um dia já foi neologismo.
O insuperável Guimarães Rosa a três por quatro inventava palavras. Novos modos de arrumá-las, concatená-las, tal e coisa. São exemplos de composições tipicamente rosianas: "maquiavelhaco" (maquiavélico+velhaco), "enormonho" (enorme+medonho). No conto "Uns Inhos Engenheiros", em que ele descreve a construção de um ninho por um casal de passarinhos, há um brotar tamanho de palavras que o espetáculo apresenta um frescor, um encanto nunca vistos. Como se fosse a vez primeira em que isso acontecesse na Natureza e, ao ocorrer lá estivesse o olhar divertido de um homem que, paralelamente, criasse uma linguagem só para lhes celebrar a façanha.
O gênio de Cordisburgo, no dizer da scholar norte-americana Mary L. Daniel, parecia querer a língua que se falava antes de Babel. E, por isso, ele amalgamava, forçava, torcia e a submetia a experiências as mais audazes. Muitas vezes encontrando inéditos sentidos para as frases e palavras, mas... estou a falar de um artista no ato da criação. Nossos homens públicos, ao que se sabe, não chegam a tanto.
É uma crônica das antigas. Siga lendo no Preblog.
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