06 julho, 2012

A poesia é necessária

•É-me necessária (particularizando).
•Em pequeno, ouvi a mãe cantar uma balada metafísica. O começo, talvez.
•Ou foi quando o pai compôs uns versos de pé-quebrado?
•Ele ainda tem aquele calo ósseo, mas como dói.
•Minha estreia: "Ode a 29 de Fevereiro".
•Todo poeta é bissexto até que prove o contrário.
•E como é fácil prová-lo!
•De herói infante a hierofante. Todo mundo é bom, todo mundo evolui.
•Aprendi que para poetar existe o sublime e existe o prosaico.
•O sublime, ah, o sublime, é supimpa! Enquanto o prosaico às vezes pede uma limpa.
•E um epigrama vale o quanto pesa?
•Um dia, fiquei sem fôlego para recitar um alexandrino. Fui - solução lógica - a um otorrino.
•"Circulasse pelo campo das lobélias", ele foi peremptório.
•Um récipe é um récipe é um récipe, e pronto!
•Os poetas não se dão, dizem, mas eu já morei com um espécime.
•De paredes-meias, graças a Deus.
•Ele era alvar, refinado como o açúcar e praticava a vivissecção.
•Ensinou-me a fazer albas para o anoitecer.
•Porém, era um derruído. E, felizmente, sua casa também ruiu.
•Daquele cone de sombra restou o meu gosto pelos eclipses.
•Lua, lua moondana.
•Por ocasião do lançamento de minha "Ode a 13 de Agosto", eu recebi a tão aguardada carteira de poeta oficial.
•E resguardei-me das críticas insensatas numa gaiola de Faraday.
•Poeta federal, hein, podendo tirar ouro do nariz.
•Em caso de distanásia, asseguro uma imorredoura pensão a Paulo Gurgel Sênior, meu pai.
•De um discurso sobre o método: o contrasenso é sempre mal d/ivid/id/o.
•Não sou frequentado por pesadelos, não sou K.fk.
•Eu sou (danem-se, irmãozinhos) a um só tempo crispação e serenidade.
•E viva a poesia-imprecação porque fere os tíímpanos.

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