Transmito as explicações de um trabalhador português, acidentado na construção civil, à sua companhia de seguros. Havia esta estranhado tantas fraturas em uma só pessoa num único acidente.
Nelson Cunha, por e-mail
À Cia. Seguradora.
Exmos. Senhores,
"Em resposta a seu pedido de informações adicionais e pormenorizadas sobre o quesito nº. 3 da comunicação do sinistro, no qual mencionei 'tentando fazer o trabalho sozinho' como causa do meu acidente, tenho a esclarecer o seguinte:.
Sou assentador de tijolos e, no dia do acidente, estava a trabalhar sozinho num telhado de um prédio de 6 (seis) andares. Ao terminar meu trabalho, verifiquei que havia sobrado 250 kg de tijolos. Em vez de levá-los a mão para baixo (o que seria uma asneira), decidi colocá-los dentro de um barril, e, com ajuda de uma roldana, a qual felizmente estava fixada em um dos lados do edifício (mais precisamente no sexto andar), a descê-los até o térreo.
Desci até o térreo, amarrei o barril com uma corda e subi para o sexto andar, de onde puxei o dito cujo para cima, colocando os tijolos no seu interior.
Retornei em seguida para o térreo, desatei a corda e segurei-a com força para que os tijolos (250 kg) descessem lentamente. Surpreendentemente, senti-me violentamente alçado do chão e, perdendo minha característica presença de espírito, esqueci-me de largar a corda. Acho desnecessário dizer que fui içado do chão a grande velocidade.
Nas proximidades do terceiro andar dei de cara com o barril que vinha a descer. Ficam, pois, explicadas as fraturas do crânio e das clavículas.
Continuei a subir a uma velocidade um pouco menor, somente parando quando os meus dedos ficaram entalados na roldana. Felizmente, nesse momento já recuperara a minha presença de espírito e consegui, apesar das fortes dores, agarrar a corda.
Simultaneamente, no entanto, o barril com os tijolos caiu ao chão, partindo seu fundo. Sem os tijolos, o barril pesava aproximadamente 25 kg.
Como podem imaginar, comecei a cair vertiginosamente, agarrado à corda, sendo que, próximo ao terceiro andar, o que encontrei? Ora, pois, o barril vinha a subir. Ficam explicadas as fraturas dos tornozelos e as lacerações das pernas. Felizmente, com a redução da velocidade de minha descida, veio
minimizar os meus sofrimentos quando caí em cima dos tijolos embaixo, pois felizmente só fraturei três vértebras. No entanto, lamento informar que ainda houve agravamento do sinistro, pois quando me encontrava caído sobre os tijolos estava incapacitado de me levantar, porém pude finalmente soltar a corda.
O problema é que o barril, que pesava mais do que a corda, desceu e caiu em cima de mim fraturando-me as pernas.
Espero ter fornecido as informações complementares que me haviam sido solicitadas.
Por fim, esclareço que este relatório foi escrito por minha enfermeira, pois os meus dedos ainda guardam a forma da roldana."
Atenciosamente,
Antonio Manuel Joaquim Soares
Nenhum comentário:
Postar um comentário