31 janeiro, 2016

A crise de 2008 e a ganância como um transtorno mental

por Marcos de Aguiar Villas-Bôas (*)
A principal causa de a economia mundial ter entrado em colapso entre 2007 e 2008, de não ter se recuperado até hoje e de haver grandes chances de um novo colapso em 2016 é a ganância, também chamada de avareza, sobretudo no catolicismo.
Há algumas questões comportamentais importantes que estão por detrás do capitalismo atual e que precisam ser enfrentadas. A ganância é o desejo exagerado por capital, que acarreta problemas graves como a necessidade de corromper e enganar para se ter o que quer, levando, também, a uma menor capacidade de olhar outros tipos de benefícios que podem ser auferidos durante a vida para além dos bens materiais.
Foca-se demais no dinheiro, em fazer mais patrimônio, em ter mais do que outros. A ganância vem junto, quase sempre, com a ostentação. É preciso comprar mais, ter mais e mostrar mais. Segundo a Psicologia, a ganância é um transtorno mental cujas causas parecem ser biológicas e sociais.
No desespero por mais capital, esquece-se de olhar o longo prazo e o contexto completo. Quando as coisas começam a dar errado, tenta-se escondê-las, o que faz os problemas se agravarem ainda mais, apenas vindo à tona quando o colapso é inevitável ou já aconteceu.
Foi assim com a crise de 2007/2008, decorrente das inúmeras vendas de investimentos podres, que criaram uma gigantesca estrutura de apostas sobre uma base de hipotecas que não poderiam ser pagas, pois decorrentes da concessão irresponsável de crédito, em sua grande maioria, a pessoas simples.
Juntamente com a crise econômica americana instalada em 2007, veio a inadimplência e “boom!”, explodiu a estrutura de investimentos podres feitos sobre o mercado de hipotecas imobiliárias, até então tido por muito seguro.
Algumas poucas pessoas foram capazes de enxergar isso, como Michael Burry, que ficou ainda mais bilionário apostando contra os bancos e, portanto, contra o mercado imobiliário americano, como ilustram o livro e o filme recentemente indicado ao Oscar “The Big Short”, cujo título brasileiro é “A Grande Aposta”. Como os poderosos bancos, repletos de especialistas experientes, não conseguiram antever o colapso de 2007/2008? A primeira razão é: ganância.
Eles estavam tão confiantes no mercado imobiliário e lucrando tanto em cima das vendas de investimentos Subprime, CDO – Collateralized Debt Obligation e outras invencionices do mercado financeiro, que não deram importância quando Michael Burry e outros investidores menores compraram swaps para apostar no default (inadimplência) das hipotecas e no consequente naufrágio dos investimentos podres feitos em cima do mercado imobiliário.
O filme ilustra bem como, durante o período anterior à crise, apesar de verem o que acontecia, as agências de risco e outros agentes relacionados ao mercado financeiro lhe ajudaram, como normalmente fazem, a esconder o que se passava. São as mesmas agências de risco que avaliam hoje o Brasil de maneira pior do que avaliam economias bem menos estáveis, como a russa.
Com o perdão do spoiler, mas esses são dados públicos, o filme se encerra informando que, após a poeira da crise baixar, 5 trilhões de dólares (!!) em aposentadorias, 401k (um tipo de poupança americana de longo prazo), savings (poupança em geral), valores de imóveis e bonds (títulos de rendimento fixo) simplesmente desapareceram.
Somente nos Estados Unidos, 8 milhões de pessoas perderam os seus empregos e 6 milhões perderam as suas casas. Quem vai hoje aos Estados Unidos pode ver com grande frequência os homeless (sem teto), que não existiam antes da crise na mesma quantidade.
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(*) Marcos de Aguiar Villas-Bôas é advogado, doutor em Direito Tributário pela PUC-SP e mestre em Direito pela UFBA. Atualmente faz pesquisas independentes na Harvard University e no MIT - Massachusetts Institute of Technology.

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