27 janeiro, 2020

Cobras, morcegos e o coronavírus chinês

A sopa de morcegos frugívoros
Em partes subtropicais da África, na Ásia e ilhas da região do Pacífico, a sopa de morcego é um prato popular. Estes mamíferos voadores, no entanto, podem albergar mais de 60 tipos de vírus zoonóticos que podem infectar os seres humanos (o que é muito mais do que qualquer outro animal o faz) e, por isso, eles se tornam perigosos de serem comidos.
http://blogdopg.blogspot.com/2016/04/a-sopa-de-morcegos-frugivoros.html


A atual grande preocupação de autoridades de saúde no mundo
É um coronavírus, o vírus chinês originário na cidade de Wuhan que já matou 17 pessoas e infectou pelo menos outras 500 em cinco países diferentes.
O primeiro caso da doença aconteceu em dezembro do ano passado na cidade de Wuhan, e desde então ela tem se espalhado rapidamente por outras regiões da China e até outros países. O tipo coronavírus torna o agente viral uma espécie de "parente" de outros dois vírus que também já causaram pânico nas décadas passadas: o da SARS (Sindrome Respiratória Aguda Grave) e o da MERS (Síndrome Respiratória do Oriente Médio), mas por ser um vírus totalmente diferente desses dois (ainda que pertencendo à mesma família), qualquer remédio ou tratamento desenvolvido para eles não funciona com eficácia para o coronavírus chinês.
E exatamente por ser um coronavírus, que é um tipo intimamente ligado a animais como morcegos, cobras e pássaros, muita gente começou a divulgar na internet que o morcego teria sido o grande causador da doença. Isso porque o animal foi o responsável pelo surgimento do SARS e da MERS, e uma das iguarias culinárias da região de Wuhan é uma sopa feita de morcegos, que é cozida e servida com animais quase inteiros — apenas sem as vísceras do abdome.
Mas, apesar de tabloides sensacionalistas britânicos terem começado a divulgar essa história da sopa de morcego ter sido a causadora da epidemia, não há ainda comprovação científica que ligue esse prato à doença. Além disso, sopas de morcego não são exclusivas da região de Wuhan, e também são pratos existentes na África (em países como Serra Leoa e Guiné), na Oceania e até mesmo na própria Europa (apesar de o costume ter sido deixado de lado, a sopa de morcego foi durante muito tempo uma iguaria da província de Vicenza, na Itália).
Culpar um prato comum em diversas regiões do mundo por uma doença que se originou numa cidade em específico parece um tanto exagerado. Além disso, mesmo que o morcego tenha sido o responsável por outras duas doenças parecidas, em ambas a transmissão ocorreu após os humanos terem contato com o morcego vivo, e não com a ingestão do bicho em uma sopa ou qualquer outra "delícia" em que exista a cocção do animal.
A origem seria a cobra
Então, nada de morcego: de acordo com os cientistas que estão estudando o vírus, a maior probabilidade é de que ele tenha se originado de algumas cobras, mais precisamente o krait chinês e a naja atra, comuns na região de Wuhan.
Usando amostras do vírus que foram isoladas de qualquer contato com células dos pacientes, cientistas chineses conseguiram fazer a leitura do código genético do coronavírus e tirar fotos da carga genética deles. Em um primeiro momento, o resultado encontrado até tinha familiaridades com o DNA de morcego, mas ao estudá-lo mais a fundo os cientistas descobriram que as proteínas que compõem o vírus tem uma maior similaridade com as encontradas no DNA do krait chinês e da naja atra, ambas espécies que podiam ser encontradas para venda no "mercadão" de onde surgiram os primeiros casos de pessoas infectadas com o vírus. E, assim como ocorreu em outras epidemias, os trabalhadores que foram os primeiros infectados teriam tido contato direto com essas cobras ainda vivas.
Por enquanto, ainda é cedo para se cravar que o vírus tenha surgido exatamente da cobra ou de outro animal, mas como os morcegos fazem parte da alimentação dessas cobras, uma teoria é de que, assim como no SARS e no MERS, o coronavírus tenha se desenvolvido dentro de morcegos que foram devorados por cobras, e então teria passado por mutações no corpo do réptil. Isso teria ajudado-o a se tornar mais nocivo para os humanos, mas ainda é uma hipotése que precisa ser comprovada por novos estudos.
http://onlinelibrary.wiley.com/doi/epdf/10.1002/jmv.25682
http://canaltech.com.br/saude/boletim-atualizado-coronavirus-viria-da-cobra-nao-do-morcego-dizem-cientistas-159467/

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