06 janeiro, 2020

Cabeça de Porco

Para os cariocas o termo "cabeça-de-porco" é sinônimo de "cortiço". O nome foi emprestado pela maior casa de cômodos de aluguel da capital. Construído pelo conde d'Eu, marido da princesa Isabel, seus enormes aposentos eram subdivididos por placas de madeira. Duas mil pessoas moravam ali! Sobre os portões em vez das habituais estátuas de leões, havia uma enorme cabeça de porco.
No início da noite de 26 de janeiro de 1893, por ordem do prefeito do Distrito Federal, Cândido Barata Ribeiro, a polícia ocupou o mais célebre dos cortiços cariocas da época, conhecido como Cabeça de Porco, no centro da cidade. A estalagem, conjunto de casinhas onde viviam de quatrocentas a 2 mil pessoas, conforme a fonte, foi em seguida desocupada, sem que se desse aos moradores o tempo necessário para recolher suas coisas — e, em poucas horas, demolida. A justificativa apresentada para a "decepação" — como escreveu o Jornal do Brasil — do Cabeça de Porco foi que se tratava de um "valhacouto de desordeiros".
Para o historiador Sidney Chalhoub, sua destruição "marcou o início do fim de uma era, pois dramatizou, como nenhum outro evento, o processo em andamento de erradicação dos cortiços cariocas" — do qual decorreria, imediatamente, o surgimento das primeiras favelas do Rio de Janeiro. Ilustração da mentalidade das elites, e não apenas as da época, para as quais classes pobres seriam sinônimo de classes perigosas, a brutal eliminação do Cabeça de Porco foi uma prefiguração do "bota-abaixo" que, dez anos depois, na gestão do prefeito Pereira Passos, mudaria a face do Rio de Janeiro.

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