Nelson José Cunha
Nasci em Ouro Preto no dia de São Francisco, em frente à Igreja do santo que emprestou o nome ao meu pai: Francisco. Tantas coincidências me nomeariam um Chico a mais, mas fiquei sendo Nelson, nome do meu padrinho. Não tenho religião e acho que nunca tive. Minhas rezas e genuflexões na infância eram imitações do mundo dos adultos, só isso. Sempre achei a história da Branca de Neve mais plausível do que aqueles bichos amontoados na Arca de Noé. A história de Adão e Eva, nus e excitados, assistindo bacanais dos outros animais no paraíso é de um sadismo atroz. Viver dispensado do temor do castigo eterno é um alívio - Graças a Deus! Costumo dizer aos meus amigos que se Deus existisse não haveria ateus.Tenho cacoetes de fala e solto sempre um Vai-com-Deus, Se-Deus-quiser ou Ai-meu Deus.
Deus-lhe-pague, não uso porque seria extrema ingratidão mandar uma conta para o além. Pensam que sou religioso e recebo convite para novenas e missas. Ganho medalhas e cromos de todos os santos e já ganhei a biografia de São Francisco. Levava o livro para o consultório e o lia entre as consultas. O jardineiro da Clínica, rapaz de 18 anos, ao me ver interessado no livro, pediu para lê-lo. Fez-se aí uma vocação. Cacau, devolveu-me o livro com um anúncio:
- Doutor Nelson, decidi pedir demissão do emprego porque vou ser franciscano.
Tentei demovê-lo, mas a influência da bela biografia do santo levou o rapaz para o convento. Ordenou-se capuchinho, fez votos de pobreza e castidade e foi mandado para Nova Iorque onde hoje dirige uma paróquia no bairro de Astória. É um quarteirão inteiro onde fica a Igreja, a creche e uma escola católica. Fui visitá-lo justamente na hora em que celebrava. Ele mandou que eu e Conchita (esposa) subíssemos ao altar de onde, a pedido dos funcionários, fiz um depoimento sobre a origem modesta do Padre José Carlos.
De microfone em punho, falei para os fieis da Saint Rita’s Church como um livro pode mudar o curso de uma vida.
Tem mais.
Interior da Saint Rita's Church. Celebração de uma missa por Padre José Carlos |
Nenhum comentário:
Postar um comentário