Celina Côrte Pinheiro
médica, presidente da Sobrames - CE
A cidade de Fortaleza, como tantas outras no Brasil, convive com a indisciplina da população no que concerne ao código de posturas, o instrumento mais efetivo e democrático na garantia da qualidade de vida e da boa convivência entre todos os cidadãos, definindo, de forma clara, nossos direitos e deveres na utilização do espaço urbano.Tais normas, contudo, tornam-se inúteis face ao desinteresse da comunidade em atendê-las e à precariedade da fiscalização, impotente para abranger todos os focos de problemas. A certeza da impunidade alimenta a indisciplina e o descontrole ético. Estaciona-se nas calçadas; trafega-se na contramão; joga-se lixo nas ruas; poluem-se as águas dos mares e dos rios; ocupam-se irregularmente vagas destinadas a idosos e deficientes físicos, sob a desculpa do vou ali e já volto; abandonam-se as fezes de animais nas calçadas e áreas comuns dos edifícios; afronta-se a Lei do Silêncio com excesso de decibéis, em horários e locais inadequados, armam-se barracas para venda de quinquilharias, confecções e alimentos obstruindo ruas e calçadas...
Tais pessoas prolongam seus direitos além do limite da boa convivência, sem se preocupar com os danos causados aos demais. Agem com indiferença aos direitos daqueles com quem compartilham o espaço urbano e rejeitam qualquer forma de proibição. Para elas, é proibido proibir. Não deve ser assim, sob o risco de tornarmos a convivência comunitária insuportável.
Aqui, nem a beira-mar, cartão postal da cidade, escapa à sanha da indisciplina. Entre outros desmandos, no trecho da conhecida Feirinha, as armações de ferro das barracas não são mais recolhidas ao final do dia.
Passamos a olhar o mar através de um quadriculado mal organizado que enfeia o cenário verde-azulado. O poder público, por sua vez, não conseguiu intermediar uma solução favorável para o conflito entre os feirantes e o locador do espaço onde os aparatos eram guardados.
A parafernália permanece e, pelo jeito, um dia, descobriremos termo-nos acostumado ao errado. Porém, não devemos, pois a cidade onde nascemos ou vivemos deve motivar o orgulho, o prazer e o respeito pela qualidade de vida que nos oferece.
A responsabilidade é nossa!
(artigo publicado ontem em Debates e Ideias, Diário do Nordeste)
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