No início da noite de 26 de janeiro de 1893, por ordem do prefeito do Distrito Federal, Cândido Barata Ribeiro, a polícia ocupou o mais célebre dos cortiços cariocas da época, conhecido como Cabeça de Porco, no centro da cidade. A estalagem, conjunto de casinhas onde viviam de quatrocentas a 2 mil pessoas, conforme a fonte, foi em seguida desocupada, sem que se desse aos moradores o tempo necessário para recolher suas coisas — e, em poucas horas, demolida. A justificativa apresentada para a "decepação" — como escreveu o Jornal do Brasil — do Cabeça de Porco foi que se tratava de um "valhacouto de desordeiros".
Para o historiador Sidney Chalhoub, sua destruição "marcou o início do fim de uma era, pois dramatizou, como nenhum outro evento, o processo em andamento de erradicação dos cortiços cariocas" — do qual decorreria, imediatamente, o surgimento das primeiras favelas do Rio de Janeiro. Ilustração da mentalidade das elites, e não apenas as da época, para as quais classes pobres seriam sinônimo de classes perigosas, a brutal eliminação do Cabeça de Porco foi uma prefiguração do "bota-abaixo" que, dez anos depois, na gestão do prefeito Pereira Passos, mudaria a face do Rio de Janeiro.
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