24 janeiro, 2020

A caixa de gelo

Uma de minhas lembranças mais antigas é de quando eu era jovem e morávamos em um apartamento de três cômodos no segundo andar de um condomínio de apartamentos. Nós éramos pobres, ou com certeza uma família de baixa renda, mas meu irmão e eu não sabíamos disso. Vivíamos da renda de nosso pai como operário de uma fábrica que produzia telhas de amianto.
Nós não tínhamos uma geladeira, mas tínhamos uma caixa de gelo.
A caixa de gelo, se bem me lembro, era um armário em sua maior parte de madeira, que tinha algumas prateleiras de metal e o interior de latão em que nós mantínhamos o leite e alguma outra comida perecível.
A nossa não era tão boa quanto a que está sendo mostrada aqui. Mas tinha o espaço suficiente para alojar um grande bloco de gelo. Um par de vezes por semana, o homem de gelo vinha e reabastecia nossa caixa com um novo bloco de 25 libras de gelo.
Minha lembrança mais vívida é a do homem do gelo tendo no ombro um pedaço de aniagem, do tipo que se vê em sacos de batatas, utilizando-se de umas pinças gigantes para pegar o bloco de gelo, que era depois colocado no ombro. Ele então subia as escadas até o nosso pequeno apartamento no segundo andar. Lembro-me muito bem de estar sentado nas escadas em que o homem de gelo tinha de pisar enquanto subia os íngremes degraus. E lembro-me de ver aquelas gotas d'água pingando do bloco de gelo que ele carregava sobre o ombro. Eu corria meus dedos pelas gotas e podia sentir toda a frieza da água.
O homem do gelo cobrava uma pequena taxa, retomava o caminho da sua lista de entregas para retornar poucos dias depois. Eu nunca me lembro de ele ter dito algo para mim, nem de como ele exatamente era, mas acho que sempre vou me lembrar daquelas gotas frias do gelo derretido em seus passos dados até o nosso apartamento.

Jonco’s True Bits
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Jonco, sua família

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